09 dezembro 2004

golpe de estado

Hoje apetece-me dar asas à minha costela conspiradora. Vai daí, aproveitando o momento político que se vive actualmente neste cantinho à beira mar plantado, desenvolvi a minha teoria acerca deste assunto: Portugal foi, ou está a ser, vítima de um golpe de estado.

Antes de prosseguir, convém desde já deixar bem claro que não sou defensor de nenhuma cor política. Num passado longínquo fui simpatizante de um partido, mas apenas isso.

Desde que sou recenseado que tenho sempre cumprido o meu direito de voto. Sejam eleições autárquicas, legislativas, presidenciais ou europeias, ou até mesmo nos referendos, até agora não falhei nenhuma. Sinto que, mais do que um direito, o acto de votar é um dever cívico pelo que, a não ser por um qualquer motivo inultrapassável, hei-de sempre exercê-lo.

A minha teoria para a actual situação política no nosso país até é simples de ser entendida. De qualquer modo, visto tratar-se de uma teoria fermentada na minha complexa mente, mais não é do que isso mesmo: uma simples teoria pessoal.

A decisão do Presidente da República (PR), o Dr. Jorge Sampaio, de dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, mais não é que a face visível de um encapuçado golpe de estado que já estava a ser preparado desde há algum tempo.

Não pondo em causa a legitimidade do PR para tomar tal iniciativa, o facto é que a atitude tomada expõe, de uma forma clara e inequívoca, a imagem de que o PR mais não é do que uma marioneta nas mãos do partido que o elegeu.

Porque é que esta decisão não foi tomada há 4 meses atrás, precisamente quando o Primeiro-Ministro (PM) da altura, o Dr. Durão Barroso, resolveu ir-se embora para a Comissão Europeia? Não teria sido muito mais lógico convocar-se eleições antecipadas do que dar posse a um político playboy como o Dr. Santana Lopes?

Acontece que, aos barões do Partido Socialista, a ideia de eleições antecipadas com o Dr. Ferro Rodrigues como candidato a PM era algo intolerável. Ferro Rodrigues sempre foi um líder a prazo, lançado para as luzes da ribalta como sucessor do Eng.º António Guterres, após a saída deste para lado nenhum, pelo simples facto de que nenhum dos reais candidatos a líderes do PS se quis chegar à frente naquela altura. Por que motivo haveriam de o fazer, quando era evidente que a derrota nas eleições era certa, como se veio a comprovar?

Perante o cenário de eleições antecipadas, e na perspectiva de duelo entre Ferro Rodrigues e Santana Lopes, os barões do PS estremeceram. Mesmo com todo o descontentamento popular para com o (des)governo da coligação, era muito pouco provável que, com Ferro Rodrigues, o PS atingisse a maioria absoluta. O PS queria, e quer, ser governo, mas sem ter que se encostar a ninguém para governar.

Perante isto, e plenamente conscientes que caso o PR optasse por dar posse a Santana Lopes, em vez de ir para eleições antecipadas, a atitude de Ferro Rodrigues seria a demissão, os barões do partido mexeram os cordelinhos para que fosse exactamente esse o desenrolar dos acontecimentos.

Dito e feito, tomada de posse de Santana Lopes igual a pedido de demissão de Ferro Rodrigues. Caminho livre para a eleição de uma liderança mediática e com uma imagem forte para agarrar os desígnios da nação.

Os desenvolvimentos seguintes não surpreendem. Era óbvio que o (des)governo de Santana Lopes estava condenado ao fracasso. A situação já não era nada favorável e algumas das mais recentes medidas, como os famigerados cortes aos benefícios fiscais ou a pseudo redução das taxas de IRS, só serviram para agravar o já de si enorme descontentamento do povo.

Convenhamos que num governo de coligação, como aquele que ainda temos, é sempre o partido mais pequeno que manda, ou seja, Portugal está na realidade a ser governado pelo Partido Popular, partido esse que teve para aí uns 6% aquando das eleições. O PP tem o PSD bem agarrado pelos tomates. “Vocês precisam de nós para governar, por isso aguentem-se à bronca”.

Não tenho quaisquer dúvidas em afirmar que, caso tivesse obtido margem para poder governar sozinho, muitas das políticas levadas a efeito pelo PSD teriam sido substancialmente diferentes. Claro que isto não significa que tudo fosse um mar de rosas e que eles não metessem a pata na poça muitas vezes.

Voltando ao PS. Eleito o seu menino bonito, o Eng.º José Sócrates, fiel discípulo do louvado ex-líder e futuro candidato presidencial António Guterres, estavam criadas as condições para efectivar o golpe.

Mexe-se um cordelinho para aqui e outros para acolá e eis que, sem que nada o fizesse prever, temos o parlamento dissolvido. É conveniente que tal aconteça numa altura em que TODAS as sondagens dão maioria absoluta ao PS.

Independentemente da insatisfação generalizada do povo, para com o actual (des)governo, o facto é que se trata de um governo legítimo, com maioria parlamentar, empossado 4 meses antes pelo PR numa lógica de estabilidade. O mesmo PR que agora demite o governo argumentando que...

Pensando bem, quais são os argumentos? Sim, verdade seja dita que até agora não houve qualquer declaração que visasse esclarecer todo este imbróglio. Efectivamente, se por um lado é fácil dar ordem de dissolução ao parlamento, por outro lado é muito complicado encontrar uma justificação credível para que tal aconteça. Neste detalhe os barões do PS deixaram Jorge Sampaio entregue a si próprio. “Desenrasca-te!”

Enquanto cidadão, confesso que estou muito preocupado com o que vai acontecer quando o PS obtiver a maioria absoluta. Não estou iludido com a imagem de renovação e modernidade que José Sócrates procura transmitir. Não tenho dúvidas que, quando ele for eleito, vai chamar para Ministros todos aqueles meninos da máquina partidária que ainda há pouco tempo lá estiveram e só fizeram asneiras.

Pensando bem, qualquer cenário resultante das eleições é preocupante. PS com maioria absoluta e voltamos aos tempos despesistas de António Guterres. PS em coligação com BE e/ou PCP é mau de mais para sequer pensar nisso. PSD com maioria absoluta é entregar o país nas mãos de um menino mimado e playboy. PSD em coligação é aquilo que hoje temos.

As perspectivas variam entre o ”muito mau”o “péssimo”... venha o Diabo e escolha!

e dei-a

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