31 março 2004

6 meses

Completam-se hoje 6 meses desde que mudei para a minha casa. Após largos anos a viver em casa dos progenitores, 2003 foi o ano que marcou o tão desejado e ansiado passo em frente.

Mesmo tendo-se tratado de um ano de crise económica, no meu caso pessoal 2003 foi um ano em cheio ou, como eu gosto de lhe chamar, o ano dos 3 C’s: o FCP ganhou o campeonato (e não só), acabei o meu curso (já estava na altura de deixar de fazer parte da mobília do ISEL) e comprei casa.

Quando no dia 30 de Junho do ano passado eu dei por mim a assinar o Contrato Promessa de Compra e Venda, senti que era o realizar de um sonho. Já há algum tempo que aguardava por aquele momento. Comecei a pensar seriamente na aquisição de casa própria no início de 2001, mas a combinação de vários factores levou a que só passados 2 anos tenha sido possível atingir esse objectivo.

Mudar de casa implicou mudanças de hábitos, como não poderia deixar de ser. Tive que aprender a lidar com a máquina de lavar roupa, tive que me familiarizar com a imensidão de produtos de limpeza que a minha mãe me deu, tive que melhorar os meus dotes de cozinheiro, e mais coisas.

Confesso que me adaptei melhor do que estava à espera. Não é que estivesse com medo de ir viver sozinho ou que me assustasse a perspectiva de ter que me transformar em dona de casa. Nunca pensei é que a adaptação à nova realidade fosse tão rápida.

Fui obrigado, forçosamente, a gerir (ainda) melhor os meus recursos financeiros. Felizmente para mim, a educação e os princípios que os meus pais sempre me incutiram, fizeram com que desde sempre, eu fosse uma pessoa habituada à lógica do “não há dinheiro, não há vícios”.

Prestação do empréstimo, mensalidade dos seguros obrigatórios, contas de luz, gás e água são fiéis companheiras às quais não posso fugir. A isto somem-se os gastos com a alimentação, com a gasolina e com outros bens que, embora não os comprando todos os meses, temos sempre necessidade contar com eles, como por exemplo roupa, calçado ou despesas com médicos e medicamentos, e facilmente se conclui que ou há cabeça ou então vai sobrar muito mês no final do ordenado.

Tive que abdicar de algumas coisas que, embora fossem importantes, não me eram essenciais. Reduzir o número de vezes que vou jantar fora com os amigos, deixar de ir à Carbono, reduzir as saídas nocturnas, não ter TV Cabo nem Netcabo, evitar ir ao cinema, cortar nas despesas de telemóvel, foram algumas das medidas que tive que implementar. Nada de grave.

De tudo o que deixei de fazer, o que sinto mais falta é da Internet. O acesso à banda larga era um dos meus passatempos. Ler os jornais diários, fazer home banking, sacar os episódios de South Park e uns mp3, consultar o e-mail, navegar na Web, estar em chats com malta conhecida, tudo isto fazia parte da minha rotina diária.

Só que a banda larga acabou. O mundo da Internet, para mim, resume-se hoje em dia a umas esporádicas ligações via modem analógico, aproveitando a hora de almoço para usar o computador lá do sítio onde trabalho. É pouco, mas sempre vai dando para consultar o e-mail (desde que não me enviem ficheiros muito grandes :P) e para publicar estes maravilhosos textos bloguísticos.

Não concordo com a política de banda larga existente neste país. Porque é que, para ter um acesso de banda larga, eu sou obrigado a ser assinante de um serviço de televisão por cabo ou, em alternativa, a uma rede fixa de telecomunicações? Não está já na altura de tornar mais acessível, em termos de custos, o acesso do comum dos mortais a estes serviços?

Eu nem sequer vou falar da estonteante velocidade a que a banda larga funciona em Portugal. Ela é larga se for comparada com antiquada ligação analógica via modem de 56K. Se comparar-mos aquilo que cá se chama de banda larga com aquilo que lhe chamam os países em que a percentagem de “zés povinho” que possuem ligações à net é uma imensidão de vezes superior à nossa, a banda larga em Portugal estreita-se num instante.

Sempre pensei que com o ADSL e o aparecimento de mais do que um operador a disponibilizar este serviço, as coisas fossem evoluir, quer ao nível da qualidade de serviço quer ao nível dos preços praticados. A realidade mostrou-me que eu estava iludido a esse respeito. O monopólio da PT continua a dar cabo da concorrência e a relação preço/qualidade continua a ser aberrante.

Chamem-me sovina, forreta, fuinha ou lá o que quiserem, mas não me queiram convencer que os cerca de 50 Euros de mensalidade por uma ligação de banda larga, é um preço acessível. Talvez até seja, caso fosse essa a minha única despesa mensal. Mas não é esse o caso.

Duma vez por todas, acho que o Estado devia olhar para esta questão. Melhorar a qualidade do serviço de banda larga, tornando-o acessível a mais gente, é, a meu ver, uma forma de evolução. Não podemos continuar na cauda da Europa em tudo. Deixem de tratar a Internet como sendo um luxo.

Já basta estarmos no cu da Europa por causa do mapa.

e dei-a

29 março 2004

mudança da hora

Este fim de semana mudou a hora, ou seja, entrou-se hora de Verão. Na prática isto equivale a dizer que este fim de semana teve apenas 47 horas.

Dependendo dos hábitos e costumes de cada um, estamos a falar de menos uma hora para dormir, para namorar, para estar com os amigos ou com a família, tratar das lides domésticas (por causa disso não consegui lavar o chão da minha casa de banho :P), enfim, menos uma hora para levar a cabo qualquer actividade de lazer típica de fim de semana. Claro que, para aquelas pessoas que têm que trabalhar ao fim de semana, trata-se de menos uma hora para trabalhar.

Claro que, na prática, dado que o acerto dos fusos horários ocorre na madrugada de sábado para domingo, faz com que, aparentemente, o parágrafo anterior resulte numa enorme redundância, uma vez que quase nem se sente o efeito dessa mudança. Errado!

Qualquer período temporal, respeitante ao fim de semana, que me seja roubado, por mais pequeno e insignificante que esse período possa parecer, é sinónimo de um encurtar do tempo que falta até chegar a segunda feira. Isso é muito grave!

O fim de semana é algo de sagrado. Durante a semana, aquilo que mais vezes me ouvem dizer é qualquer coisa do estilo “nunca mais chega o fim de semana”. Mesmo que as minhas actividades nesse período se resumam coçar a micose e/ou laurear a pevide, eu venero essas 48 horas como se fossem as últimas. Bem, para dizer a verdade, são mesmo as últimas... as últimas antes da próxima segunda feira.

Isto parece conversa de preguiçoso, e vai na volta até é. Quando estou a trabalhar não fujo às minhas responsabilidades, mas daí até gostar de trabalhar, a distância é enorme. Para mim são mais importantes as 48 horas do fim de semana do que as 120 da semana de trabalho, mesmo que apenas 40 dessas sejam de horário laboral.

Claro que as horas de trabalho são importantes, uma vez que sem elas não existia o indispensável ordenado, e sem ordenado não havia meio de me sustentar ou de suportar as despesas que a minha casa dá.

Então porque é que as horas de fim de semana são mais importantes? Não tem apenas a ver com a vertente do descanso ou de não ter que me levantar às sete e meia da manhã. O motivo é apenas um e é dos mais simples que podem existir. É durante essas 48 horas que eu consigo estar com algumas das pessoas que mais gosto. É algures durante esse período que saio com os meus amigos, que ponho a conversa em dia, que me divirto. Isso é tão fundamental para mim como o ar que respiro.

Não estou a dar graxa a ninguém em particular, mas acreditem que às vezes não me importava mesmo nada de passar a totalidade daquelas 48 horas com algumas dessas pessoas.

Não consigo imaginar a minha vida sem os meus amigos, sem a minha família. Preciso ter tempo para eles, para estar com eles. Não abdico disso por ninguém, patrões incluídos, porque há coisas que o dinheiro não paga.

Poucos meses após a conclusão do meu Bacharelato, tive a oportunidade de ir trabalhar para o Departamento de Engenharia duma empresa alemã ligada ao ramo das lojas alimentares, a fazer fiscalização de obras. Era uma proposta aliciante para quem não tinha ainda currículo nessa área. Bom ordenado, carro para uso total e boas perspectivas de carreira numa área que me interessava.

Pura ilusão. Foram os piores 2 meses da minha vida. Trabalhava quase sem horário, a um ritmo de 12/14 horas diárias, fins de semana incluídos. Nesse período fiz uma quantidade incrível de quilómetros, sempre em serviço.

Nesse período de tempo, morava eu ainda com os meus Pais, era sempre o primeiro a sair de casa e o último a chegar, sendo que, na maior parte das vezes, à hora que entrava em casa já eles estavam a dormir. Os meus amigos pura e simplesmente não me viam. Estava a dar em maluco.

Não aguentei. Bati com a porta e jurei para nunca mais. De que me serve ganhar 250 contos por mês, conduzir um Rover com todas as despesas pagas se me era exigida dedicação exclusiva ao patrão? No way!

Se calhar por pensar assim, nunca hei-de ser rico mas querem saber uma coisa? I don’t give a shit. Há valores que o dinheiro não compra e eu não abdico desses valores. Prefiro ser uma rica pessoa do que uma pessoa rica. Privarem-me de estar com o Lino e com a Nela, que são as duas pessoas a quem eu devo tudo que sou, de estar com as “marias” e os “manéis” que são os meus amigos e amigas é a pior coisa que me podem fazer.

Por isto e por tudo mais, é favor não roubarem tempo aos meus fins de semana.

e dei-a

23 março 2004

assalto

Pouco passava das duas da manhã. Praticamente, tinha acabado de adormecer. Primeiro ouvi um estrondo. De seguida ouvi um alarme a tocar e pessoas a falarem alto umas com as outras. Achei estranho. Resolvi levantar-me e ir espreitar o que se passava. Do alto do meu 4.º andar, ainda fui a tempo de assistir à fuga dos assaltantes. Ao certo não sei quantos seriam, mas deu para ver que utilizaram dois carros.

Os amigos do alheio resolveram fazer uma visita a uma das lojas situadas no rés do chão do prédio onde habito. De entre as opções restaurante, ourivesaria, loja de telemóveis, mediadora de seguros / imobiliária e boutique, qual acham que foi a opção? Se a vossa resposta foi ourivesaria, devo dizer-vos que estão redondamente enganados. Esta malta era adepta das telecomunicações.

Movido pela natural curiosidade humana quando confrontado com situações destas, e como o rio do alarme não se calava e não deixava ninguém dormir, resolvi enfrentar o frio e descer para averiguar os estragos. Nessa altura, já algumas pessoas da vizinhança tinham tido a mesma atitude.

No passeio amontoavam-se os estilhaços do vidro da porta de entrada na loja, o qual havia sido rebentado através do científico método da “força bruta”. Primeiro rebentaram com o fecho da grade metálica, provavelmente com uma alavanca ou um pé de cabra, e depois vai de partir a porta envidraçada com recurso a uma bela cacetada.

Depois deste pequeno momento à Sherlock Holmes, duas coisas começaram a intrigar-me:

- uma vez que o alarme, um daqueles ligados a uma central que, assim que o dito dispara, chama a polícia, ainda não se tinha calado, onde parava a polícia?

- Porque raio é que, à excepção de uma prateleira na montra, todo o recheio da loja parecia que não tinha sido mexido?

Cerca de meia hora depois de tudo ter acontecido, quando finalmente chegaram os agentes da autoridade, dois jovens soldados do posto da GNR de Alverca, fiquei a saber que a demora deles se ficou a dever ao facto de eles terem saído estrada nacional fora em busca de 2 viaturas suspeitas que, com base nas informações prestadas por quem de início telefonou para o posto a relatar a ocorrência, viraram em direcção a Lisboa após o assalto. A busca revelou-se infrutífera.

De qualquer modo, pessoalmente concordo com a atitude dos agentes. Uma vez que se tratava de um facto consumado, que é como quem diz, a loja já tinha sido assaltada, não servia de muito eles dirigirem-se de imediato ao local do crime em busca de quem já lá não se encontrava. O alarme continuava a tocar.

Passando ao traçar do perfil dos malfeitores, apetece-me chamar-lhes... broncos. Não se pense que sou profissional do ramo e que por isso sei mais dessa “arte” do que os indivíduos em causa. A questão passa, única e simplesmente, por 2 factores que me parecem demasiado evidentes:

- tendo uma ourivesaria ao lado da loja de telemóveis, porque não optar por assaltar esta? Parece-me a mim que relógios e jóias devem valer mais do que telemóveis.

- Tendo optado pelos telemóveis, porque motivo é que rebentam com a porta da loja e saem de lá só com meia dúzia de aparelhos?

Deviam ser ou rookies ou burros. Utilizam dois carros para levar uma mão cheia de telemóveis. Viva o luxo. Melhor ainda. Assaltam uma loja de telemóveis mas, na pressa da fuga, fica para trás um telemóvel, ligado e com cartão activo, o qual aparentava pertencer a um dos assaltantes, pois não me parece que fosse da loja. Cá para mim foi um assalto Tide... bronco mais bronco não há! A banda sonora da sirene do alarme continuava a ecoar na minha cabeça.

Não estou muito preocupado com o proprietário da loja, o Sr. Mughali. Não é por ele ser aquilo que, carinhosamente, apelido de “kéfrô”, que digo isto. Tenho o maior respeito por todas as raças e credos. Não estou preocupado porque, à parte o incómodo de ter a loja fechada para limpeza e reparação dos estragos durante algum tempo, o mais provável é que todos os prejuízos estejam cobertos pelo seguro. Já agora, ele que aproveite para questionar a empresa de segurança responsável pelo alarme e respectiva ligação à central, porque é que mais de uma hora depois do acontecimento ainda nenhum elemento deles se tinha deslocado ao local para desactivar o alarme, mesmo depois de um dos agentes da GNR lhes ter telefonado várias vezes.

Enfim. Espero que apanhem os artistas que fizeram isto. Não sabiam fazer aquilo de dia? Não há condições. Está um gajo muito bem em casa a ver se dorme descansado, e vêm estes energúmenos armar um estardalhaço de todo o tamanho. Não sabem que o sono é sagrado?

Já agora, alguém cale a porcaria do alarme!

e dei-a

22 março 2004

Primavera

Ontem começou a Primavera. Não sei se é a melhor das 4 estações do ano, mas é provavelmente aquela que mais admiradores tem.

Quando se fala em Primavera há logo uma série de coisas que lhe são associadas. São as andorinhas que regressam aos seus ninhos para procriarem que nem umas malucas, são os dias solarengos que nos fazem esquecer do frio do Inverno que ainda agora acabou, são as paixões e os romances que, nunca percebi bem porquê, são mais propícios de acontecer nesta estação do ano, são as crises alérgicas e a febre dos fenos, enfim, é uma imensidão de coisas.

Pessoalmente gosto da Primavera. Descontando a parte desagradável das alergias, todo o demais simbolismo que esta estação representa faz parte do meu imaginário de menino. Quem de nós, nos tempo de escola primária, não teve que redigir uma ou mais composições acerca da Primavera? E quem não teve que fazer desenhos alusivos ao mesmo tema?

Naquela altura era-me bem mais fácil escrever qualquer coisa acerca da Primavera do que é agora, porque basicamente bastava falar nos dias de sol e nas andorinhas que o assunto ficava resolvido. Naqueles tempos, o flagelo das alergias ou as questões do Cupido passavam-me ao lado. Eu gostava mesmo era de jogar à bola nos intervalos!

Agora os tempos são outros, a febre dos fenos já é uma velha conhecida, mas não deixa de ser verdade que, pelo menos para mim, a Primavera tem um significado diferente. Não digo especial, porque todas as estações são especiais, todas elas têm um qualquer significado que me faz gostar delas: o Verão equivale a férias, o Outono significa o final dos dias de calor insuportável e o Inverno é sinónimo de ficar enroscado no sofá, embrulhado num cobertor, a ver um filmezito em DVD.

A Primavera tem um efeito rejuvenescedor nas pessoas. E não estou apenas a pensar no facto de, dias mais solarengos, poderem equivaler a ver as mulheres portuguesas vestidas com roupinhas mais leves e arejadas. Não é que isso não seja algo a que não dê importância.

Primavera é azul, alegre, leve. Acho que as mulheres ficam mais bonitas na Primavera. Não é que não o sejam no resto do ano, mas a beleza delas é realçada com a mudança de estação. É lógico que no Inverno, estação da chuva, do vento e do frio, eu estou mais preocupado em não apanhar uma molha e em desviar-me das poças de água do que em olhar para as mulheres. Por isso é que elas ficam mais bonitas na Primavera.

Mas nem tudo são rosas na Primavera. Também há as margaridas, as orquídeas e outras espécies florais. Piadinhas manhosas à parte, a realidade é que há cartões de visita primaveris que não são muito agradáveis.

Estou a falar das andorinhas. Calma. Não se comece já a pensar que sou dos que não gosto dos passarinhos e que só me apetece largar chumbo neles. Nada disso. O contraste entre o preto e o branco da sua penugem, faz delas umas aves bonitas.

São é más inquilinas. Não por opção, uma vez que já estavam incluídos na casa quando a comprei, tenho ninhos de andorinha numa das varandas. Porreiro. Confesso que acho agradável acordar de manhã com o barulho das andorinhas, a não ser que me tenha deitado às tantas da matina e me apeteça dormir até mais tarde. O que não é nada, mas mesmo nada agradável, é ter de limpar a javardeira que elas deixam na varanda. Eles podem dar as festas que quiserem, convidar os familiares e amigos e ficarem a beber copos até caírem para o lado que eu não os vou criticar por isso. Dava era jeito que eles limpassem a porcaria que fazem. Isto de ser sempre o mesmo a limpar não me parece muito justo!

Enfim. Pode ser que no próximo Inverno eu lhes dê ordem de despejo. Até lá, com paixões ou sem elas, com alergias ou não, com dias de sol e andorinhas, o que importa é que a Primavera chegou.

e dei-a

19 março 2004

piropos de obra

Estamos a perder a nossa identidade. Não me estou a referir às pessoas que, por qualquer motivo, ficam sem o seu documento de identificação pessoal, vulgo B.I.. Estou a falar deste cantinho à beira mar plantado que dá pelo nome de Portugal.

Eu sei que vivemos na era da globalização, com tudo de benéfico e nocivo que tal fatalidade da sociedade moderna acarreta. Mas há coisas que não se deveriam perder nunca.

Vamos por partes. Está agora a fazer uns aninhos, 510 para ser mais preciso, que foi assinado o acordo que dividiu em duas zonas de influência o mundo do século XV por descobrir, para Portugal e Castela. Não estão a ver do que é que estou a falar? Do Tratado de Tordesilhas pois claro.

Ah pois é. É que nós, que agora estamos reduzidos a este rectângulo continental e a mais uns quantos apêndices ilhéus, já fomos donos de metade do mundo. Até parece mentira.

Pois é. Fomos, mas já não somos. Andamos a descobrir uma data de coisas por esse mundo fora para depois, armados em tipos porreiros, entregar tudo de mão beijada. O que é que se safou? Algumas especiarias, novelas brasileiras de qualidade manhosa e uma data de bazares chinocas.

Não contentes com isto, resolvemos aderir ao Euro. Mas qual moeda única qual quê? É que, por causa disso, nós perdemos, não apenas o Escudo, mas também o Pau e o Conto. Foi-se a milena, levaram-nos a quinhentola e nunca mais vamos ter o pintor. Agora é tudo Euro.

Mas a coisa não ficou por aqui e acreditem que ainda piora. Quem não sente saudades do belo vendedor de rua que, em dia de jogo à porta dum qualquer estádio, apregoava a plenos pulmões “É pó cu, é pó cu. É a almofadinha da bola!”. Agora os únicos pregões que se ouvem quando andamos pela rua são “Ké frô?”.

Mas agora vem a pior parte, aquela que a mim mais me dói até porque diariamente lido com essa realidade. O que é feito do belo piropo de obra???

Nada tenho contra os imigrantes que trabalham nas obras. Muito pelo contrário. Provavelmente se não fossem eles, muitas das obras neste país não se faziam. O que lamento é que ninguém se tenha preocupado em preservar esse símbolo nacional.

Contrariamente ao que muita gente diz, mulheres na sua maioria, o piropo de obra não é ordinário. Muito pelo contrário. Cada piropo proferido, à passagem de alguém do sexo feminino nas imediações duma qualquer obra, tem um efeito “2 em 1”.

Por um lado, provoca imediatamente na mulher em questão, uma agradável sensação de que está a ser apreciada. Mesmo que a sua reacção possa ser de desagrado, a realidade é que, no seu intimo, a mulher fica com o ego elevado porque alguém reparou nela.

Por outro lado, o piropo tem uma vertente científica que não pode, nem deve, ser menosprezada. Permite detectar traços do perfil psicológico de quem o profere, descobrir facetas da sua personalidade e, até mesmo, enquadrar sociologicamente o indivíduo que o profere.

Vejam-se alguns exemplos:

“És boa como o milho!”
(nesta situação estamos perante alguém que é um ávido e fanático consumidor de Corn Flakes ao pequeno almoço)

“Oh jóia, anda cá ao ourives!”
(facilmente se percebe que este indivíduo faz uns biscates a arranjar relógios na ourivesaria lá do bairro)

“O teu pai deve ser talhante... saíste cá uma febra!”
(aqui vê-se que se estamos na presença de alguém que está habituado a fazer as compras lá para casa)

“Tu com tantas curvas e eu sem travões!”
(um bocado à semelhança do caso da ourivesaria, neste caso estamos em presença de alguém se faz biscates na oficina de automóveis do seu vizinho de cima)

”Oh princesa, deixa-me trepar ao teu castelo!”
(ora cá está alguém que não perde um programa do José Hermano Saraiva e sabe tudo o que há para saber acerca das nossas dinastias)

“Oh filha, rebocava-te essa fachada toda!”
(este é orgulho de qualquer encarregado de obra, pois é um profissional aplicado que está constantemente a pensar no bom desempenho da sua tarefa)

“E ainda dizem que as flores não andam!”
(este é um tipo sensível, que tem como passatempo a botânica)

É que, hoje em dia, quando se passam numa obra, a coisa mais parecida com um piropo que as mulheres portuguesas ouvem é qualquer coisa do estilo ““Vodka ieltsin perestroika gorbatchov putin sputnik!” ou então “Catunga du biró dipá cusá cadê di bô!”

Isto é intolerável! Não podemos deixar que o piropo de obra caia no esquecimento. É urgente unir-mo-nos todos à volta desta luta. Se calhar há que começar a pensar rapidamente na criação de um movimento cívico para defesa deste símbolo nacional. Qualquer coisa do género “Movimento Pró-Piropo d’Obra” (M.P.P.O.). Juntemo-nos e manifestemos a nossa indignação para com a falta de interesse dos nossos governantes na preservação da identidade nacional.

Sigam o meu exemplo. Não percam uma oportunidade que seja de presentear as transeuntes que circulam na periferia nas nossas obras com um genuíno piropo. Já agora, podem ajudar-me nesta luta enviando piropos para o mail do blog, de modo a que a minha base de dados de piropos não se esgote.

Salvem o piropo!

e dei-a

16 março 2004

rinite

Quantos de vós que, fielmente, devoram estas linhas estão envolvidos numa relação de longa duração? Vá lá, não se acanhem e respondam. “Querem lá ver isto agora, hein?. Era só o que faltava. O gajo tá armado em cusco ou quê?”

Sosseguem os vossos espíritos que não estou minimamente interessado nas vossas relações. Efectivamente é esse o tema de hoje, mas não vou falar das relações dos outros. Pois é. Hoje vou falar-vos da minha companheira. “Boa. O bacano vai falar da relação dele. Baril. Devem vir aí revelações surpreendentes.” Ou então não.

Sim. Leram bem. Não é gralha nem engano. Eu escrevi “minha companheira”. Surpreendidos(as)? Chocados(as)? Não me digam que ainda não sabiam? Hehehe.

A prosa de hoje é dedicada à minha fiel e dedicada Rinite. De seu nome completo Rinite Alérgica Persistente, a minha querida Rinite partilha comigo a sua vida já lá vão 18 aninhos. “Tanto tempo? Chiça!”

Confesso que, quando tudo aconteceu, eu não estava preparado para assumir compromisso tão sério. Mas ela apaixonou-se. Houve como que uma atracção irresistível. Diria mesmo, magnética. Foi ela que se chegou à frente. A minha Rinite é uma menina muito moderna. Não ficou à espera que eu desse o primeiro passo.

Assim que me viu pela primeira vez, houve logo aquela química tipo “Atracção Fatal”. Foi tudo muito rápido. Ainda mal me tinha apercebido do que me estava a acontecer e já a inflamação da mucosa nasal se tinha apoderado de mim. A Rinite bateu-me forte.

Com receio de me perder, ela não fez a coisa por menos. Seduziu-me e encantou-me com crises de espirros, congestão e obstrução nasal, rinorreia e muito prurido nasal e ocular. É impossível resistir a tais encantos.

Tem sido uma relação como a maioria das relações. Tem os seus momentos bons e menos bons. Há coisas nela que não me agradam muito, como por exemplo ter que conviver com alguns amigos dela. Não vou lá muito à bola com o bando de alergénios com quem ela se dá. Os ácaros, fungos, poléns e fâneros de animais são chatos e maçadores. Mas podia ser pior. Mal por mal, antes estes que a família Ite. Para a otite, conjuntivite e sinusite é que não há mesmo pachorra nenhuma!

Ao princípio tudo era um mar de rosas. Estava cativo aos encantos dela. Por ela, tal era a atracção, cometi loucuras como fazer testes cutâneos de alergia. São marcas que vou guardar para sempre e tudo por causa dela.

Passada a fase do encanto, veio a fase do desencanto. Dei por mim envolvido numa realidade que não tinha previsto. Nunca pensei, ainda na flor da idade, ter de partilhar a minha vida com alguém. Senti-me aprisionado. Senti que não tinha chegado a curtir a vida. Achava que estava a cometer um erro do qual me poderia vir a arrepender para o resto dos meus dias.

Talvez por isso, afundei-me no lodo da evicção alergénica. Tentei livrar-me da Rinite, fazendo com que ela me viesse a achar insuportável e se fosse embora. Foram tempos bem sombrios. Eu estava desesperado. Procurei conforto nas piores substâncias. Anti-histamínicos, sedativos e não sedativos, corticosteróides e vagolíticos intra-nasais, de tudo um pouco eu experimentei. Cheguei mesmo a bater no fundo quando dei por mim metido na imunoterapia específica.

Mas a minha Rinite não me deixou. Fiel e determinada, a tudo isto ela sobreviveu. A força do seu amor foi mais forte que todas as drogas. Graças a esse amor, consegui limpar-me.
Limpei-me, mas não me curei. Longe estava a minha Rinite de imaginar que eu tinha uma amante. É verdade. Não me orgulho daquilo que digo, mas a verdade nua e crua é essa mesmo. Durante anos existiu outra na minha vida. A minha Lesão Benigna.

Consegui mantê-la escondida da Rinite durante bastante tempo, pelo menos pensava eu que sim. A verdade é que a Rinite sempre soube que havia outra. Mas mesmo assim, ela não me abandonou.

A Lesão estava a tornar-se insuportável, incómoda. Um fardo que eu já não estava a aguentar. Pressionou-me, encostou-me à parede. “Ou eu ou ela. Vais ter que optar. Não quero continuar a ser a outra.” Foi o fim. Não havia volta a dar. Em Janeiro deste ano, a excisão da Lesão Benigna era um facto consumado. Com direito a encerramento directo, para que não restassem dúvidas.

Fiquei só eu e a Rinite. E assim continuamos. Com mais ou menos comichão no nariz e nos olhos, com mais ou menos espirros, hoje eu sei que a Rinite entrou na minha vida para ficar.

Até que a morte nos separe.

e dei-a

15 março 2004

mondays

Detesto as segundas feiras. Não todas. Como qualquer regra, esta também tem a sua excepção. Segundas feiras que sejam feriados ou que coincidam com período de férias, essas eu consigo aturá-las. Só que descontando estas, ainda sobram umas quarenta e muitas dessas coisas, às quais é impossível fugir.

Posso enumerar alguns motivos que me levam a odiar esse maldito dia. O mais óbvio de todos é o facto de estes malditos dias representarem o terminar do fim de semana, coincidindo com o início de mais uma semana de trabalho. E como é tão bom trabalhar... not!

Desculpem lá a frontalidade, mas é que a mim nunca ninguém vai ouvir dizer que gosto de trabalhar. Trabalho por necessidade, não por gosto. Não fosse a dependência do ordenadozito no final do mês e, certamente, eu não trabalharia. Mas calma lá. Também não estou a dizer que, caso não estivesse dependente do ordenado, eu ia ser um daqueles que não fazia nada. Vamos supor que eu agora ganhava um triplo jackpot no totoloto e ficava com uma pipa de massa que chegava e sobrava para viver de rendimentos até ao final da minha vida. Nesse caso, o mais certo seria aplicar parte dessa massa num negócio que servisse para me manter entretido, como por exemplo abrir um bar. Nesse caso, eu não estaria a trabalhar mas sim estaria entretido com um hobby. E também seria patrão!

Mas voltando às segundas feiras, o principal motivo pelo qual eu não as suporto é eu nunca conseguir dormir decentemente de domingo para segunda. E quando digo nunca, é mesmo NUNCA! E já agora, se existem segundas, terças, quartas, quintas e sextas feiras, onde é que pára a primeira feira?!

Ou porque levo uma eternidade a adormecer, independentemente de estar a cair de sono ou não, ou então, nos dias em que consigo adormecer pacatamente, durante a noite acordo várias vezes com aquela sensação de “porra que o despertador já tocou e eu não ouvi”, para depois olhar para o relógio e constatar que afinal ainda são 3 ou 4 da manhã. Assim não há condições para enfrentar uma segunda feira.

Por mais que tente não consigo encontrar uma justificação plausível para este fenómeno, mas, rebuscando a minha mente imaginativa e algo deturpada, já consegui arranjar uma explicação que tem tanto de lógica como de absurda: estou possuído por um demónio!

Mas não se pense que é um demónio qualquer, do tipo daqueles que se vêem em filmes como “O Exorcista”. Nada disso. Este demónio é de modelo BD. Confusos? É natural que estejam. Isto hoje já começou a descambar para o devaneio mental.

Eu acho que estou possuído por um demónio Garfieldiano. Acham que não? Reparem nas semelhanças:

- o Garfield é um gato, é gordo, laranja e tem riscas... apesar de não ser gato na lógica felina da coisa, pode haver quem me considere um “gato” na lógica da novela brasileira, sendo que também sou gordo, não sou laranja mas adoro laranjas, e, por acaso, hoje estou com uma t-shirt às riscas; (já agora, as leitoras cá do burgo que se manifestem :P)

- o Garfield é preguiçoso e adora dormir... embora não seja preguiçoso, não gosto de trabalhar e dormir também é um dos meus passatempos preferidos;

- o Garfield adora comer e lasanha é a perdição dele... comer é um dos “meus nomes do meio” e também sou uma fã de lasanha, seja ela de carne, de bacalhau ou vegetariana;

- o Garfield tem um sentido de humor apurado e carregado de ironia... basta lerem a minha dissertação sobre a tinta do papel de jornal para se concluir que o meu sentido de humor não lhe fica a dever nada;

- last but not least, o Garfield ODEIA as segundas feiras... também eu!

Ignorando a parte do “gato”, não é que eu não possa ser um mas como me auto-intitulei “bem humorado e irónico”, não convém abusar dos comentários narcisistas, são por demais evidentes as semelhanças entre o Garfield e o je.

E agora? Que fazer para ultrapassar este problema? Já me estou a imaginar, num futuro que pode estar bem próximo, a entrar numa sessão dos Garfieldeanos Anónimos e a expor este drama perante outros GA’s.

Já sei! Para grandes males grandes remédios, não é? Então faça-se o seguinte. Voltemos à parte do exorcista e faça-se o mesmo a mim. Acabe-se com este sofrimento. Quero voltar a conseguir dormir descansado nas noites de domingo para segunda. Faça-se o exorcismo. Arranje-se quem uma borracha e apague para sempre este meu lado BD!

Haja pachorra para aturar o bloguista. ;)

e dei-a

12 março 2004

terrorismo

Um bom terrorista, é um terrorista morto.

Venha quem vier, digam o que disserem, não me vão fazer deixar de pensar que um terrorista é um ser que não merece o ar que respira. É pena que, com tanta espécie animal a correr riscos de extinção, este produto da evolução (???) do ser mais inteligente (?!?!?!) à face da Terra não desapareça.

É revoltante ver imagens como as de ontem em Madrid. Seja em que local do mundo for, seja motivado pelo que for, seja levado a cabo por quem quer que seja, não há nenhuma justificação para actos como aquele.

Cabem todos no mesmo saco. Tanto me faz que sejam os fundamentalistas islâmicos da Al Qaeda ou os independentistas bascos da ETA. Não há bons terroristas e maus terroristas. São todos a mesma coisa, valem todos o mesmo: rigorosamente NADA!

Ver e ouvir os líderes terroristas a enalteceram a honra das suas causas, a bravura dos que por essas causas morrem, enoja-me. Na realidade, esta gente não passa de um grupo de cobardes. Atentar contra vidas alheias, de pessoas que nada têm a ver com as lutas destes energúmenos é alguma bravura? Que honra há em fazer explodir uma carruagem de comboio cheia de gente? Isto é a mais pura das cobardias, sem tirar nem pôr.

Que me desculpem os defensores dos Direitos Humanos, mas alguém que comete barbaridades como esta não merece julgamento nem castigo. Merece é ser esquartejado, esventrado, diluído em ácido, eu sei lá. Pensando bem, retiro o meu pedido de desculpas. Porque hei-de estar a pedir desculpa por algo que não é humano? Esses “seres” valem tanto como os restos de uma digestão quando estão a ser despejadas sanita abaixo.

É pena que, com tantas evoluções na tecnologia e afins, ainda não se tenha criado um método de exterminar, rápida e eficazmente, estas pragas. Qualquer coisa do género carregar num botão e, num abrir e fechar de olhos, todos os terroristas se evaporariam, materializando-se como matéria orgânica que serviria de adubo à reflorestação do planeta.

Porra que estou mesmo danado. Não há causa nenhuma que justifique a morte de terceiros. Sejam quais forem as motivações que move esta gente, a partir do momento em que são levados a cabo estas carnificinas, perde-se toda a razão.

Mas sabem o que ainda me revolta mais do que assistir, impotente, às imagens de actos terroristas? É ouvir uma qualquer besta dizer “é bem feito”. É bem feito? É bem feito?? Mas anda tudo doido, ou quê? Só pode! Como é que alguém que esteja na posse de todas as suas faculdades mentais pode afirmar uma coisa destas?

Infelizmente há. E estava na mesa ao lado da minha.

e dei-a

10 março 2004

acreditar

Aqueles que me conhecem, e que são ávidos e assíduos leitores deste blog, devem estar a pensar qualquer coisa do género “Pronto, já se está mesmo a ver que o próximo post vai ser a falar de futebol e do FCP.” São capazes de ter razão, mas só em parte.

Seria demasiado óbvio pôr-me aqui a elogiar mais um feito do FCP, caindo na tentação de ser mais um daqueles cromos da bola que não perdem uma oportunidade de extravasar a sua clubite, por vezes quase a roçar o fanatismo. Não é segredo nenhum, para os que me conhecem, que sou adepto do FCP. Já muita gente me deve ter ouvido dizer que sou tripeiro de nascença e portista por convicção. Sou-o e não o escondo, mas sou-o a uma distância muito grande do fanático.

Mas afinal, se não vou comentar o feito ontem conseguido pelo FCP, em que é que vou falar de futebol? Ora aí é que está. Vou falar de futebol sem falar em futebol. Parece-vos complicado? Olhem que não.

Nunca esquecendo o lado humorístico e, por vezes irónico, de outros posts, passados ou futuros, aqui também há espaço para coisas mais sérias. Neste blog vai haver de tudo um pouco, seja eu capaz de exprimir por palavras aquilo que me vai na cabeça e, não menos importante, seja eu capaz de por de lado a preguiça.

Estava eu hoje a almoçar e a ver as imagens da festa que adeptos do FCP fizeram ontem nas ruas da cidade e, de imediato, comecei a imaginar o que não estariam a comentar certo tipo de gente que por aí anda:

- “Aqueles tripeiros são mesmo bimbos. Até parece que ganharam alguma coisa.”

- “Porra que aquela malta do Porto é mesmo saloia. Bibó Puerto, carago. Nem falar sabem.”

- “Não compreendo o porquê de tanta festa. Afinal, aquilo que aconteceu foi o sistema em todo o seu esplendor.”

Já o disse mas volto a repeti-lo: não sou um adepto fanático. nem adepto fanático nem tripeiro fanático. Não pensem que escrevi aquelas 3 frase com o propósito de dizer mal de quem não é tripeiro ou portista. Muito pelo contrário.

Ao ver aquelas manifestações de alegria, aquele ar de satisfação na cara das varinas do Mercado do Bolhão, lembrei-me logo daquilo que ontem disse ao meu Pai quando acabou o jogo: “Esta equipa mexe connosco. Mesmo sem estarem a jogar grande coisa nunca deixaram de lutar. Acreditaram até ao fim.”

Ora é mesmo disso que hoje me vou pôr a dissertar. Para quem viu o jogo, independentemente da sua cor clubística, não pode ter ficado indiferente à atitude dos jogadores do FCP e aquilo que mais saltou à vista foi a força de vontade que eles demonstraram. Lutaram até ao fim, acreditando sempre que era possível atingir o seu objectivo.

É mesmo essa a imagem que retenho. Quando acabou o jogo, dei por mim com a lágrima ao canto do olho. As emoções estavam ainda bem frescas. Porra, aquela equipa de tostões acreditou sempre. É esse o exemplo que todos nós deveríamos seguir.

Todos nós temos objectivos. Sejam de carreira, sejam pessoais, sejam até mesmo utópicos, como a mais bela das utopias que é dizer-se que a única coisa que se deseja é ser feliz. Não importa os objectivos que sejam, importa sim é acreditar sempre que somos capazes de os atingir. Mesmo que as coisas não estejam a correr tão bem como desejaríamos, não devemos deixar de lutar. Mesmo que se esteja a chegar ao fim do caminho, não devemos desistir porque até se chegar ao fim do caminho ainda falta percorrer qualquer coisa.

Não sei se a fluência das minhas palavras está a ser capaz de exteriorizar a minha ideia. Basicamente estou a tentar fazer uma certa analogia entre o futebol e algo mais vasto que é a vida.

O futebol não é nenhuma escola de virtudes, mas ninguém pode negar que o futebol mexe com as pessoas. Por causa de um simples jogo de futebol, eu hoje vi imagens de pessoas anónimas com os olhos a brilhar de alegria. Um simples jogo de futebol foi, pelo menos por alguns momentos, capaz de fazer essas pessoas esquecerem-se das dificuldades da vida. Naquele momento ninguém estava a pensar nas dificuldades de gerir um salário que, para a grande maioria dos portugueses, é curto para tanto mês. Ninguém estava a pensar no desemprego, no custo de vida elevado, etc..

Seria bom que, todos nós, tripeiros ou não, portistas ou não, fossemos capazes de aprender algo com o que a equipa do FCP mostrou ontem. Não quero que todos se transformem em adeptos da bola ou coisa parecida, mas não seria bom se todos nós fossemos capazes de lutar sempre pelos nossos objectivos, sem nunca desistir ou deixar de acreditar?

Eu aprendi. Obrigado FCP.


e dei-a

09 março 2004

Gutenberg

Ao fim de apenas um mísero dia de existência blogosférica, eis que já começam a surgir as primeiras dores de cabeça bloguísticas. Apetece-me escrever qualquer coisa acerca de um qualquer assunto. Mas que coisa? E que assunto?

Debatia-me eu com esta guerra existencial, entre duas garfadas nos panados de porco à italiana e um bom gole de água mineral, quando, de repente, vi a luz: vou escrever sobre esse flagelo da humanidade que é a tinta do papel de jornal!

Se bem o pensei, melhor o fiz. Mas antes de escrevinhar seja o que for no belo do processador de texto, convém ir primeiro lavar as manápulas. Porquê? Simples. Porque após o almoço estive a folhear as páginas de um jornal diário de grande tiragem e não me apetece nada sujar o pobre teclado do meu portátil. Não, não foi o 24 Horas. Quero lá eu saber porque é que a Rute Marques foi despejada. Eu nem sabia que ela estava dentro dum vasilhame! (momento “piada muito má” #1)

Reparem na classe com que me esquivo a laivos de publicidade gratuita. Alguém leu Microsoft Word quando lá mais atrás falei em processador de texto? Alguém me viu falar no DN quando me referi a jornal diário de grande tiragem? Alguém viu escrito Toshiba, logo a seguir à palavra portátil? Claro que não viram. Aqui não há publicidade gratuita. Mais. Este blog é um “add free blog” e 100% isento de “pop-up windows”. Podem navegar à vontade que não vai aparecer nenhum anúncio a questionar a vossa virilidade masculina ou a vossa capacidade de sedução feminina, ou se querem ver teenagers vestidas de colegiais a praticarem cenas kinky com animais de quinta em charcos de lama. Acho que depois disto me arrisco a perder o único leitor que este blog tem!

Mas voltemos à questão do dia.

Desde que o Gutenberg, esse grande maluco, inventou a imprensa, que esse acontecimento faz parte do quotidiano de qualquer país desenvolvido, Portugal incluído.

O problema não está na imprensa. O busílis (bolas, como eu odeio esta palavra) da questão é a tinta. Porque a imprensa não suja as mãos. Pode sujar a reputação, mas as mãos, e tudo aquilo em que depois se toca, quem as suja é a tinta! Suja-as, e duma maneira que quase apetece de apelidar como criminosa. Sim. Porque eu acho que devia ser punido como crime o facto de uma pessoa sair de casa de manhã toda bem arranjadinha e lavadinha, dirigir-se ao quiosque mais próximo para comprar um jornalzito porque se quer manter a par com as actualidades mundanas, ler esse mesmo jornal enquanto usufrui dos prazeres indescritíveis do agora pomposamente denominado Sistema de Transportes de Lisboa (quem não se recorda com nostalgia do cheiro envolvente e sedutor do sovaco alheio, do aperto aconchegante do excesso de lotação, do cacarejar das galinhas do banco ao lado que vão a discutir a vida da vizinha de cima da empregada do primo do marido duma delas) e chegar ao seu local de trabalho com ar de quem acabou de sair das minas de Neves Corvo!

Já era altura de alguém acabar com este flagelo. Só que os lobbies das tintas são muito poderosos. A dura realidade é que este país está nas mãos não dos legitimamente eleitos (mas alguém elegeu o Paulo Portas? Argh!), mas sim nas mãos das famílias Robialac, Cin e Dyrup, entre outras. São piores que as máfias italianas ou de leste, que as tríades de Macau, que os Yakuza. Porra, conseguem ser piores que o Teobar!

Enfim, enquanto há vida há esperança, e eu vivo na esperança de um dia tudo isto acabar e o mundo ficar livre destes tiranos. Vamos lá ver é se eu sobrevivo até lá. É que neste momento a minha cabeça já deve estar a prémio e, sinceramente, não me admirava se um dia destes ao acordar, deparasse com uma nódoa de tinta permanente nos meus lençóis preferidos. Acreditem em mim. Esta gente é muito cruel.

Já que falei no pai da imprensa – já agora, quem terá sido a mãe? – aproveito a deixa para uma pequena lição de história, algo que serve para reforçar a imagem de que este blog também é capaz de prestar serviço público, um pouco à imagem do Professor José Hermano Saraiva, mas sem o irritante tom de voz deste conceituado catedrático.

Reza a lenda que o Gut, nome pelo qual era carinhosamente tratado pelos dreads lá do bairro, se lembrou de inventar a imprensa quando, num belo dia em que o apetite não era muito, ao invés de comer a sopa de letras que a sua mãe tinha abnegada e afincadamente preparado, despejando o conteúdo dum pacote de sopa de letras Knorr numa panela com 1 litro de água e deixado ferver durante 5 minutos sem nunca deixar de mexer (momento “piada muito má” #2), ele ficou a mirar as letrinhas a flutuarem impávidas e serenas sobre aquela aguada de aspecto gorduroso, num cenário em tudo idêntico às taínhas no Tejo lá para os lados do Barreiro.

Nessa altura, bate-lhe uma daquelas ideias luminosas, com lâmpada e tudo (fiquem descansados que não vou dissertar sobre o Thomas Edison) e começa ele a imaginar como seria se pusesse aquelas letras a secar ao sol, as colasse a uns cubos de calçada à Portuguesa, pusesse esse carimbos pré-históricos num tabuleiro, besuntasse aquilo tudo com uma tinta qualquer (mais lá para a frente vou desvendar qual foi a tinta utilizada) e espetasse com a bela da folha A4 - em papel reciclado porque ele era uma ecologista - por cima daquilo. Et voilá. Da sopa se fez a imprensa.

Nenhuma lição de história fica completa sem uma pequena incursão pelos escândalos e os podres que envolviam o Gut. Sim, porque não nos podemos esquecer que ele tinha inventado a imprensa, mas que com ela também tinha nascido a sua gémea má: a imprensa cor-de-rosa!

Segundo o que os Cláudio Ramos da época escreveram, a Dona Gutenberg era conhecida pelas suas belas hastes, pois reza a lenda que o maluco do Gut teve, durante largos anos, uma amante loira de origem Dinamarquesa, da qual nasceu o seu filho bastardo, Carlsberg. (momento “piada muito má” #3)

Deixando de lado a história e voltando aos tempo actuais, e já depois de ter desabafado acerca dos lobbies tinteiros, a realidade é que esta invenção criou um dos maiores paradoxos da humanidade: como pode a mesma substância que, pelo simples gesto de pegar num qualquer jornal, nos borra as mãos todas, ser a melhor coisa que existe para, em conjunto com aquele detergente verde cuja marca não vou dizer mas que para os que não conhecem começa por S, acaba em L e pelo meio diz ONASO, limpar os vidros lá de casa?!

Claro que já houve por aí muito especialista em química que deve ter teorizado acerca deste fenómeno, tendo concluído que tal facto se deve a uma qualquer osmose molecular invertida entre a tinta e o detergente, o que leva a que a união entre esses dois materiais distintos dê origem a algo com uma imensa capacidade de agarrar toda a sujidade existente nos indefesos vidros. Um pouco à semelhança do que a Manuela Ferreira Leite faz com o dinheiro dos Portugueses!

Pois meus amigos, essa teoria é falsa. Pelo menos a parte da osmose, porque a parte da Manuela é bem real. Eu vou explicar o verdadeiro motivo pelo qual a tinta não afecta os vidros. É simples. A realidade é que não há tinta nenhuma para sujar os vidros, porque toda a tinta que existia foi parar às nossas mãos quando lemos o jornal! É que se fosse mesmo por causa de arranjos moleculares, ou coisa parecida, entre a tinta e o detergente, ao invés de papel de jornal mais valia usar um belo dum choco e assim juntava-se o útil ao agradável: limpavam-se os vidros e fazia-se o jantar ao mesmo tempo!!!

E só para que não pensem que não existe qualquer ligação entre a papel de jornal com que se faz o “Espesso” e o choco com que se cozinha a bela da feijoada de choco, que tudo isto foi apenas e só fruto da minha fértil imaginação, eu vou-vos provar o contrário. Basta fazerem um pequeno exercício de memória. Lembram-se de quando o Gut inventou a imprensa? Recuem lá uns parágrafos... já estão a ver qual foi a tinta que ele utilizou?

e dei-a

08 março 2004

intro

Pois é. Resolvi aderir à cena do momento... abri um blog. YEAH!!!

Mas porque raio é que me dei ao trabalho de fazer isso? Será por estar na moda? Não deve ter sido. Afinal, eu até sou daqueles que não alinha muito em modas. Já sei. Deve ter sido por um daqueles momentos “se toda a merda tem um blog, porque não hei-de eu também ter um?”.

Hummmm. Mas agora que penso no assunto (sim, é verdade, eu penso), criar um blog porque toda a merda tem um é exactamente o mesmo que alinha na moda. Socorro!!! Afinal sou um fashion addicted!!!

Vá lá. Respira fundo. Conta até 10. Não é assim tão mau. Há modas bem piores.

Há que ver o lado positivo deste blog (como se tal coisa existisse). Posso sempre argumentar que é uma forma de exercitar a minha escrita, de ginasticar os meus neurónios, de extravasar os devaneios mentais, de partilhar com o mundo as minhas ideias e opiniões. Mas a quem é que isso interessa? Pois... a ninguém. Ou não estivesse o universo de leitores deste blog limitado a uma pessoa. Ok, confesso. Mantenho a secreta esperança de que alguém mais que a minha ilustre pessoa (ora cá está uma das vantagens dum blog... o auto-elogio narcisista) possa vir a usufruir desta pequenas odes literárias. Ou então não.

Mas afinal, perguntam vocês, o que é que me levou a aderir à blogosfera? Sinceramente não encontro uma explicação lógica e coerente para tal acontecimento. Simplesmente acordei um dia e... apeteceu-me!

Aviso já, a todos(as) os que possam estar interessados(as) que este blog não é um diário. Nem é um diário nem é diário, porque se pensam que vou escrever coisas todos os dias, desiludam-se. Ou então, ao invés da desilusão, rejubilem de alegria. “Ainda bem que aquele gajo não escreve todos os dias. Já não há quem o ature.”

Mas afinal, se muito provavelmente apenas eu irei ler isto, porque raio é que estou para aqui a imaginar a reacção dos leitores(as)? Bem, avancemos.

Este blog não é temático. Ou melhor, temático até é. Não tem é apenas um tema. Há-de ter os temas que me apetecer. Há-de ser conforme os dias. Qualquer coisa do género “hoje apetece-me divagar acerca do universo” ou então “hoje vou comentar as arbitragens da última jornada do campeonato da 1ª divisão de hóquei em campo no Paquistão”. Vai ser abrangente. Just wait and see. É um blog de ideias, com ideias, do ideia. Bonito trocadilho.

Não me vou alongar muito mais. Acho que para amostra já escrevi bastante. Antes de me despedir e sendo hoje o dia que é, quero prestar a minha sincera homenagem às mulheres. A todas elas em geral e a todas de quem sou amigo em particular.

As mulheres são os bichos mais complicados que existem, algo que me foi confirmado pela mulher que mais respeito me merece em todo o universo. Mas a grande realidade, pelo menos para mim, é de que o mundo sem elas não teria o mesmo encanto. Apesar do “vírus das compras desenfreadas”, apesar “daquela altura do mês”, apesar da “psicose do consumo de novelas”, apesar de tudo isso, não se consegue viver sem elas. Nem com elas!

e dei-a

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