28 julho 2004

metrosexual

Segunda feira tive que ir ao dentista. Tenho aqui um sacrista dum dente que me tem provocado umas belas dumas dores, daquelas que todos nós gostamos imenso... ou então não.

Estava eu sentado na sala de espera quando, para matar o tempo, resolvo passar uma vista de olhos por uma daquelas revistas de sociedade que encontramos sempre neste tipo de espaços.

Nisto dou de caras com um daqueles artigos, cujo título prende logo a atenção: “O metrosexual sucede ao macho latino. Admirável homem novo.” Pelos vistos este é um daqueles conceitos que está na moda, mas que a mim me provoca desarranjos de índole gastrointestinal.

De acordo com o texto, o termo metrosexual, criado por um jornalista americano, une as palavras metrópole e sexual e tem como objectivo definir um determinado tipo de consumidor: homens entre os 25 e os 45 anos, com algum poder económico, urbanos e vaidosos.

Só o facto de ter sido um qualquer americano a criar este conceito já é suficientemente mau, ou não fossem os americanos um dos povos mais broncos, idiotas e egocêntricos à face da Terra.

Entre outras preciosidades, da leitura deste artigo fiquei a saber que o metrosexual gasta entre 30 e 40 por cento do seu rendimento em roupas e sapatos de marca (Versace, Dior, D&G e Jean Paul Gaultier são apenas alguns exemplos), faz pedicura e manicura, recorrem a institutos para fazer tratamentos de beleza, não dispensam um bom creme de dia ou de noite (o importante é ser rejuvenescedor e anti-rugas), escolhe sempre os locais da moda e prefere uma boa taça de vinho a cerveja.

A depilação definitiva também já entrou no vocabulário dos metrosexuais, até porque muitos deles não passam sem depilar as sobrancelhas ou outros pêlos do corpo e, para além disso, o metrosexual passa horas ao espelho pois detesta arranjar-se à pressa. A única coisa que não admitem é ser apelidados de gay.

Haverá um equivalente feminino para metrosexual, ou parte-se do princípio que todas as mulheres já o são? Uma vez que existe a “tradição” de dizer que as mulheres é que se fartam de gastar dinheiro em compras, passam horas ao espelho e afins, será que uma mulher que não seja assim passa a ser uma suínosexual ou coisa semelhante?

Porque raio é que, hoje em dia, há a tendência natural de catalogar, rotular ou criar terminologias novas para definir coisas ou situações que, bem vistas, sempre existiram? Ainda o metrosexual está “pintado de fresco” e eis que já se fala em tecnosexual, que mais não é do que a junção de tecnologia com metrosexual. Até já há sites que explicam aos amantes da tecnologia quais são os melhores meios para organizar a sua vida e melhorar a sua aparência.

Num outro local do artigo eram referidos os dez mandamentos do metrosexual. Foi precisamente neste ponto, correndo o gigantesco risco de descobrir que também pertenço a essa raça, que resolvi verificar se me encaixo nesses mandamentos.

1) Cuida, acima de tudo, da sua aparência.
Desculpem-me o tom ignorante, mas não cuidamos todos da nossa aparência? De qualquer maneira, se o facto de tomar banho e cortar a barba todos os dias, de gostar de usar água de colónia de vez em quando, o mesmo com o gel para o cabelo, faz de mim um maluqinho com as aparências, então seja.

2) Conhece a qualquer custo as tendências da moda.
De maneira nenhuma. O meu conceito de moda é usar roupa que goste, sendo-me indiferente se é da moda ou não.

3) Usa cremes faciais e corporais sem restrições.
Descontando o after-shave, a lata de creme Nívea que tenho em casa porque dá sempre jeito e um creme que uso para tentar reduzir as minhas crónicas olheiras, o qual não tem resultado, não uso (e muito menos abuso) dessas coisas.

4) Se necessário recorre à maquilhagem.
Esta só me dá para rir. O José Castelo Branco maquilha-se e o resultado é aquela linda coisa que se vê. Não insultem a minha inteligência.

5) Mantém as unhas e as cutículas limpas e bem tratadas.
Sim, pois, está certo. Acho que só vou deixar de roer as unhas quando deixar de ter dentes.

6) Visita o cabeleireiro pelo menos uma vez por mês.
Confesso. É verdade que faço isso. Sempre detestei cabelo muito grande e como o meu cresce a velocidades supersónicas, desde há muitos anos que o vou cortar uma vez por mês.

7) Vai com frequência aos Spas.
Como se o meu ordenado o permitisse! A coisa mais parecida com isso que alguma vez frequentei, foi ter ido o ano passado ao festival de Paredes de Coura e ter utilizado o balneário das piscinas em vez dos chuveiros do recinto. Aqueles 50 cêntimos diários valeram bem a pena.

8) Não tem vergonha de chorar durante um filme.
Sempre chorei, não só em filmes como em séries de televisão ou mesmo na vida real. Nunca me incomodei com isso.

9) Usa apenas roupas de boa qualidade.
Se isso é sinónimo de roupas que não se estejam a desfazer, é óbvio que sim! Sou um cliente habitual da feira semanal de Alverca e das secções de roupa dos hipermercados.

10) Opta sempre por um bom vinho em vez de cerveja.
Nem sempre, para não dizer quase nunca. Aprecio vinho verde, mas é raro beber, e não sou um ávido consumidor de cerveja. Eu é mais sumo de limão natural ou kalashnikov’s.

Vá lá. Apesar dos meus receios, contabilizando todos os mandamentos, parece-me que não tenho estofo para metrosexual. Fico desolado com o meu destino... ou então não. Continuo na minha: nem macho latino nem metrosexual. Limito-me a ser eu mesmo, e quem não gostar pode arrumar na beirinha do prato.

O funeral do meu dente está marcado para hoje.

e dei-a

20 julho 2004

fatiota de casório

No próximo sábado vou a um casamento. Um dos meus melhores amigos, antigo colega do ISEL, decidiu juntar os trapinhos e escolheu esta data para o fazer. Escusado será dizer que lhe desejo as maiores felicidades, não só a ele mas também à sua noiva que, por sinal, ainda não tive o prazer de conhecer.

E, interrogam-se vocês, porque é que ainda não conheci a ex-namorada, actual noiva e futura esposa, de um dos meus melhores amigos? Vivendo ele em Serpa, que não é propriamente “já ali”, é natural que não nos encontremos muitas vezes. mas as verdadeiras amizades são mesmo assim, mantém-se intocáveis mesmo que a presença física não seja frequente.

Mas adiante com as apologias ao verdadeiro significado e inestimável valor da amizade. Toda a gente sabe isso e não quero ser redundante e repetitivo. Se não sabe, deveria saber.

Vinte e quatro de Julho tem, pelo menos para mim, um simbolismo bastante marcante e não me estou a referir à famosa avenida da capital, carregada de bares e discotecas. Simplesmente tenho uma cicatriz no braço esquerdo que resultou de um acidente de viação que tive nessa data, vai fazer 4 anos.

Voltando à temática do casório do Zé Carlos. Sempre que sou convidado para ir a um casamento, o meu primeiro (e quase único) grande drama é... será que o fato ainda me serve! De facto, a indumentária adequada à ocasião é, regra geral, a minha dor de cabeça.

No meu roupeiro guardo dois fatos completos, ambos de Verão. Um deles é azul escuro, o outro é antracite. Até aqui tudo bem. Estamos no Verão, camisas e gravatas tenho eu algumas logo, pelo menos aparentemente, não há motivos para preocupação.

Errado. há um pequeníssimo pormenor que me deixa preocupado: estou consideravelmente mais gordo do que da última vez que vesti qualquer um dos fatos!

Digamos que a minha barriga está solidária com o Verão, tendo adoptado o formato das famosas bolas nívea que se encontram pelas praias de Portugal. Estou de tal maneira que até tenho medo de, caso vá à praia, façam de mim um “ponto de encontro”, do género “Se fores à praia este fim de semana, diz-me qualquer coisa que depois encontramo-nos junto à bola Nívea.”

Eu sei que não é obrigatório que eu vá de fato e gravata, mas a realidade é que essa é a roupa mais habitual de encontrar nestes eventos. Há outras formas de vestir, igualmente agradáveis e, porventura, mais confortáveis, perfeitamente adequadas a casamentos e afins.

Obviamente que não me passa pela cabeça aparecer lá vestido da forma como me costumo vestir no dia a dia. Digamos que aparecer lá com umas calças de ganga já bastante coçadas ou com umas bermudas e um polo ou uma t-shirt por fora das calças, já para não falar dos ténis, das sandálias ou dos chinelos, é capaz de me transformar no centro das atenções, algo que dispenso por completo.

O drama aumentava à medida que ia dando a volta ao meu guarda roupa. Isto de engordar mais do que seria desejável é mesmo muito complicado. Não é que não tenha calças que me sirvam, mas também é verdade que não estão tão largas como quando as comprei.

Posta de parte a hipótese de comprar, propositadamente, um fato novo para a ocasião, podendo até aproveitar as promoções da época, tive que adoptar uma solução alternativa. Para além de me parecer estúpido ir gastar dinheiro em roupa que só vou usar uma vez ou duas, começa a ser curto o tempo que falta até ao dia D, o que poderia inviabilizar os eventuais acertos para que a roupa ficasse a 100%.

Assim sendo, e depois de muito ponderar, a opção teve tanto de simples como de eficaz. Nada melhor do que comprar umas calças tipo “chino’s” (ou lá o que é que chamam àquilo) ou de bombazina, as quais serão complementadas por uma normal camisa e uns sapatos adequados, peças essas que já tenho. A dúvida reside agora, apenas, sobre se levo ou não um blazer para rematar.

Enfim. Bem vistas as coisas, não havia necessidade para tanto drama. Atendendo ao facto de estar calor, de o casamento ser em Leiria e de o meu carro não ter ar condicionado, quase que apetece dizer “ainda bem que o(s) fato(s) não me serve(m)”. Vou bem mais confortável nesta opção de recurso.

Independentemente da roupa, tenho mesmo que fazer uma dieta!

e dei-a

12 julho 2004

Grande Reportagem

Um dos vários defeitos que tenho prende-se com a minha (quase) crónica preguiça para ler livros. Apesar de, ultimamente, estar a tentar ultrapassar essa falha nos meus hábitos, confesso que a única literatura que mereceu a minha atenção foram os livros do Homem que Mordeu o Cão, o livro da Conversa da Treta e a biografia do Mourinho.

Tenho bons livros na minha estante, todos eles merecedores de, pelo menos, uma leitura atenta mas, até à data, a minha preguiça tem levado a melhor sobre a minha (falta de) vontade de absorver obras literárias.

Os meus hábitos regulares de leitura resumem-se, quase em exclusivo, à leitura semanal do Expresso e da edição de sábado do Diário de Notícias, hábitos esses que já levam alguns aninhos. Não vou aqui contabilizar uma ou outra leitura a um jornal desportivo diário.

É precisamente aos sábados que, com o Diário de Notícias, é distribuída a revista Grande Reportagem (GR), uma das (poucas) boas revistas que é editada no nosso mercado jornalístico.

Sou um ávido consumidor do conteúdo da GR. Desde as crónicas aos temas de fundo, passando pelas várias secções que a compõe, por regra praticamente leio tudo, da primeira até à última página. Assim como assim, a revista até nem é grande.

Foi precisamente na GR, não na edição deste sábado, mas na edição anterior, que li um artigo que encaixa na perfeição na actualidade Portuguesa. Estando o país em pleno processo de remodelação governamental, a GR sugere um quadro ministerial que, com quase toda a certeza, seria aprovado pela esmagadora maioria das portuguesas e dos portugueses. Senão vejamos:

Primeiro-Ministro: Luiz Felipe Scolari. É o líder que precisamos. Percebe de bola, não dá confiança aos espanhóis, tem bigode e, condição fundamental, não é português. Pouco dado a pieguices, acha que “auto-estima” é um stand de automóveis.

Ministro da Economia e Finanças: Luís Figo. Tem uma fortuna pessoal que a cubicagem dos nossos cofres não é capaz de suportar. É preciso dizer mais alguma coisa? Só no capítulo da simpatia é que perde para Manuela Ferreira Leite.

Ministro da Defesa: Ricardo. Mesmo com submarinos, Paulo Portas nunca conseguiria uma defesa como a que Ricardo montou frente à armada “bifa”.

Ministro dos Negócios Estrangeiros: Deco. Diplomático e fundamental nas relações com o país irmão, tem uma experiência de vida no estrangeiro mais longa do que qualquer outra personalidade que já desempenhou o cargo. Com ele, não corremos riscos de patriotismo bacoco.

Ministro da Administração Interna: Fernando Couto. Patente de capitão, carácter policial, enfrenta as investidas mais brutais impavidamente. Ao pé dele, Figueiredo Lopes é uma velhinha.

Ministro da Justiça: Rui Costa. Homem de consensos, cultiva boas relações com os juizes de linha e com o quarto árbitro, que é uma espécie de Ministério Público dos jogos de futebol.

Ministro dos Assuntos Parlamentares: Costinha. Diz umas frase com princípio, meio e fim. Veste bons fatos e faz colecção de gravatas. Tem tudo o que é preciso para ocupar o cargo com sucesso.

Ministro da Agricultura e Pescas: Hélder Postiga. Com uma infância passada no bairro piscatório das Caxinas, percebe mais de peixe do que Sevinate Pinto. Quanto à agricultura, sempre tem Durão em Bruxelas para as questões mais bicudas.

Ministro da Educação: Maniche. De expressão assaz astuta, revelou-se um dos melhores alunos do futebol português. Com ele, os índices de aproveitamento escolar seriam outra loiça.

Ministro da Saúde: Jorge Andrade. Que melhor ministro do que um homem que, após hora e meia de correria desenfreada, acusa 80 batidas por minuto?

Ministro das Obras Públicas: Ricardo Carvalho. Pessoa com obra feita, uma muralha de betão em campo. Seria um excelente substituo de... como é que se chama o Ministro?

Ministro da Juventude: Miguel. Conhece de perto os dramas que afectam a nossa juventude: foi criado em Chelas.

Ministro do Trabalho e da Segurança Social: Nuno Valente. Do Trabalho porque é de uma abnegação invulgar; da Segurança Social porque, com ele, a política nesta área ia mesmo virar à esquerda.

Ministro do Ambiente: Cristiano Ronaldo. Natural de uma ilha com grande biodiversidade, feito adulto num clube que é sinónimo de verde, é o homem indicado para driblar os espanhóis no primordial dossiê das águas.

Ministro da Cultura: Simão Sabrosa. Faria a ponte entre os eruditos, com quem partilha a paixão por textos árabes ancestrais, e os jovens criadores, para os quais é um exemplo, na moda como no teatro.

Ministro das Comunidades Portuguesas: Pauleta. Conhece bem a França, onde vive a maior comunidade de emigrantes, e domina o dialecto de boa parte dos portugueses espalhados pelo mundo.

Ministro da Ciência e Tecnologia: Quim. Dada a relevância em Portugal desta pasta, qualquer suplente chega para a encomenda.

Estou com a GR: a selecção deve ir para o Governo!

e dei-a

07 julho 2004

Davi não vê estrelas

Depois de dois dias em retiro espiritual, ou coisa do género, eis que, finalmente, consegui recuperar da desilusão que senti por Portugal não ter ganho o Euro. Fiquei triste pela derrota - parabéns à Grécia - mas senti também um orgulho enorme em ser Português. As reacções que vi e ouvi após o jogo demonstraram uma vez mais que, quando queremos, somos um povo do caraças!

O Euro já lá vai e já é altura de falar noutras coisas. A vida não é feita só de futebol. Infelizmente dirão muitos, felizmente dirão outros tantos. Há outros acontecimentos no dia a dia que merecem ser abordados, comentados, debatidos, explorados ou, pura e simplesmente, ignorados.

Terminado o Euro, a grande novela que prende agora as atenções do povo é a sucessão de Durão Barroso como Primeiro Ministro. Será que vamos ter eleições antecipadas ou a opção vai incidir sobre Pedro Santana Lopes? Que se lixe que não me vou pôr aqui a falar de política.

Para além de futebol outra das coisas que gosto é de ouvir o Programa da Manhã, na Best Rock, desde que toca o despertador até chegar ao meu local de trabalho. Sou fã incondicional da rubrica do Homem Que Mordeu O Cão. Nada melhor do que umas histórias bizarras e absurdas para começar bem o dia.

Foi precisamente no papel de ouvinte que fui hoje surpreendido por uma verdadeiro atentado aos meus tímpanos, sob a forma de umas músicas interpretadas por alguém que dá pelo nome de “Davi Não Vê Estrelas”.

Este projecto musical, duma qualidade muito duvidosa se me é permitida a opinião – claro que me é permitida, afinal o blog(eu) é meu – é composto, ao que julgo ter percebido, por dois brasileiros: o Davi propriamente dito e o conhecido publicitário Edson Athaíde.

Ora bem, eu não tenho nada contra novos projectos musicais, nem contra brasileiros, mas pelo menos dava um certo jeito que fossem projectos com qualidade e, já agora, inovadores.

Não é este o caso. Aliás, a única coisa inovadora no meio disto é a afirmação do Athaíde: “O Davi canta. Eu não canto, não toco nem danço. Limito-me a gostar de mexer em coisas novas.” Por favor, alguém que me explique o que é que isto signifique, não vá eu começar a interpretar mal as palavras do homem.

O álbum editado por estes “artistas” intitula-se Back 2 Basics e não é mais do que uma compilação de canções conhecidas da década de 80, nacionais e internacionais, interpretadas numas versões muito sui generis.

Confesso que me ia vomitando todo quando vinha a caminho do trabalho e comecei a ouvir uma asquerosa versão do Circo de Feras dos Xutos & Pontapés. Aquele piano meloso e aquele sotaque brasileiro aportuguesado deram-me a volta à tripa. A coisa não melhorou quando tocaram a Dunas, dos GNR, ou a mítica Video Killed The Radio Star, dos Buggles.

Eh pá, poupem-me a estas merdices. Se fosse eu e um grupo de amigos a fazer isto, de certeza que eram enxovalhados e achincalhados pela crítica. Como se trata do Athaíde e do amiguinho, editam discos, vão às rádios e televisões e ainda são elogiados.

Querem ser inovadores, sejam-no sem destruir por completo as músicas originais, ou então façam isso no recanto do lar em sessões privadas. Não poluam os meus tímpanos com isso. O vosso projecto tem tanta lógica como fazer versões dos fados da Amália em ritmos metaleiros.

Vai na volta isso até nem é de todo uma má ideia!

e dei-a

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