09 março 2004

Gutenberg

Ao fim de apenas um mísero dia de existência blogosférica, eis que já começam a surgir as primeiras dores de cabeça bloguísticas. Apetece-me escrever qualquer coisa acerca de um qualquer assunto. Mas que coisa? E que assunto?

Debatia-me eu com esta guerra existencial, entre duas garfadas nos panados de porco à italiana e um bom gole de água mineral, quando, de repente, vi a luz: vou escrever sobre esse flagelo da humanidade que é a tinta do papel de jornal!

Se bem o pensei, melhor o fiz. Mas antes de escrevinhar seja o que for no belo do processador de texto, convém ir primeiro lavar as manápulas. Porquê? Simples. Porque após o almoço estive a folhear as páginas de um jornal diário de grande tiragem e não me apetece nada sujar o pobre teclado do meu portátil. Não, não foi o 24 Horas. Quero lá eu saber porque é que a Rute Marques foi despejada. Eu nem sabia que ela estava dentro dum vasilhame! (momento “piada muito má” #1)

Reparem na classe com que me esquivo a laivos de publicidade gratuita. Alguém leu Microsoft Word quando lá mais atrás falei em processador de texto? Alguém me viu falar no DN quando me referi a jornal diário de grande tiragem? Alguém viu escrito Toshiba, logo a seguir à palavra portátil? Claro que não viram. Aqui não há publicidade gratuita. Mais. Este blog é um “add free blog” e 100% isento de “pop-up windows”. Podem navegar à vontade que não vai aparecer nenhum anúncio a questionar a vossa virilidade masculina ou a vossa capacidade de sedução feminina, ou se querem ver teenagers vestidas de colegiais a praticarem cenas kinky com animais de quinta em charcos de lama. Acho que depois disto me arrisco a perder o único leitor que este blog tem!

Mas voltemos à questão do dia.

Desde que o Gutenberg, esse grande maluco, inventou a imprensa, que esse acontecimento faz parte do quotidiano de qualquer país desenvolvido, Portugal incluído.

O problema não está na imprensa. O busílis (bolas, como eu odeio esta palavra) da questão é a tinta. Porque a imprensa não suja as mãos. Pode sujar a reputação, mas as mãos, e tudo aquilo em que depois se toca, quem as suja é a tinta! Suja-as, e duma maneira que quase apetece de apelidar como criminosa. Sim. Porque eu acho que devia ser punido como crime o facto de uma pessoa sair de casa de manhã toda bem arranjadinha e lavadinha, dirigir-se ao quiosque mais próximo para comprar um jornalzito porque se quer manter a par com as actualidades mundanas, ler esse mesmo jornal enquanto usufrui dos prazeres indescritíveis do agora pomposamente denominado Sistema de Transportes de Lisboa (quem não se recorda com nostalgia do cheiro envolvente e sedutor do sovaco alheio, do aperto aconchegante do excesso de lotação, do cacarejar das galinhas do banco ao lado que vão a discutir a vida da vizinha de cima da empregada do primo do marido duma delas) e chegar ao seu local de trabalho com ar de quem acabou de sair das minas de Neves Corvo!

Já era altura de alguém acabar com este flagelo. Só que os lobbies das tintas são muito poderosos. A dura realidade é que este país está nas mãos não dos legitimamente eleitos (mas alguém elegeu o Paulo Portas? Argh!), mas sim nas mãos das famílias Robialac, Cin e Dyrup, entre outras. São piores que as máfias italianas ou de leste, que as tríades de Macau, que os Yakuza. Porra, conseguem ser piores que o Teobar!

Enfim, enquanto há vida há esperança, e eu vivo na esperança de um dia tudo isto acabar e o mundo ficar livre destes tiranos. Vamos lá ver é se eu sobrevivo até lá. É que neste momento a minha cabeça já deve estar a prémio e, sinceramente, não me admirava se um dia destes ao acordar, deparasse com uma nódoa de tinta permanente nos meus lençóis preferidos. Acreditem em mim. Esta gente é muito cruel.

Já que falei no pai da imprensa – já agora, quem terá sido a mãe? – aproveito a deixa para uma pequena lição de história, algo que serve para reforçar a imagem de que este blog também é capaz de prestar serviço público, um pouco à imagem do Professor José Hermano Saraiva, mas sem o irritante tom de voz deste conceituado catedrático.

Reza a lenda que o Gut, nome pelo qual era carinhosamente tratado pelos dreads lá do bairro, se lembrou de inventar a imprensa quando, num belo dia em que o apetite não era muito, ao invés de comer a sopa de letras que a sua mãe tinha abnegada e afincadamente preparado, despejando o conteúdo dum pacote de sopa de letras Knorr numa panela com 1 litro de água e deixado ferver durante 5 minutos sem nunca deixar de mexer (momento “piada muito má” #2), ele ficou a mirar as letrinhas a flutuarem impávidas e serenas sobre aquela aguada de aspecto gorduroso, num cenário em tudo idêntico às taínhas no Tejo lá para os lados do Barreiro.

Nessa altura, bate-lhe uma daquelas ideias luminosas, com lâmpada e tudo (fiquem descansados que não vou dissertar sobre o Thomas Edison) e começa ele a imaginar como seria se pusesse aquelas letras a secar ao sol, as colasse a uns cubos de calçada à Portuguesa, pusesse esse carimbos pré-históricos num tabuleiro, besuntasse aquilo tudo com uma tinta qualquer (mais lá para a frente vou desvendar qual foi a tinta utilizada) e espetasse com a bela da folha A4 - em papel reciclado porque ele era uma ecologista - por cima daquilo. Et voilá. Da sopa se fez a imprensa.

Nenhuma lição de história fica completa sem uma pequena incursão pelos escândalos e os podres que envolviam o Gut. Sim, porque não nos podemos esquecer que ele tinha inventado a imprensa, mas que com ela também tinha nascido a sua gémea má: a imprensa cor-de-rosa!

Segundo o que os Cláudio Ramos da época escreveram, a Dona Gutenberg era conhecida pelas suas belas hastes, pois reza a lenda que o maluco do Gut teve, durante largos anos, uma amante loira de origem Dinamarquesa, da qual nasceu o seu filho bastardo, Carlsberg. (momento “piada muito má” #3)

Deixando de lado a história e voltando aos tempo actuais, e já depois de ter desabafado acerca dos lobbies tinteiros, a realidade é que esta invenção criou um dos maiores paradoxos da humanidade: como pode a mesma substância que, pelo simples gesto de pegar num qualquer jornal, nos borra as mãos todas, ser a melhor coisa que existe para, em conjunto com aquele detergente verde cuja marca não vou dizer mas que para os que não conhecem começa por S, acaba em L e pelo meio diz ONASO, limpar os vidros lá de casa?!

Claro que já houve por aí muito especialista em química que deve ter teorizado acerca deste fenómeno, tendo concluído que tal facto se deve a uma qualquer osmose molecular invertida entre a tinta e o detergente, o que leva a que a união entre esses dois materiais distintos dê origem a algo com uma imensa capacidade de agarrar toda a sujidade existente nos indefesos vidros. Um pouco à semelhança do que a Manuela Ferreira Leite faz com o dinheiro dos Portugueses!

Pois meus amigos, essa teoria é falsa. Pelo menos a parte da osmose, porque a parte da Manuela é bem real. Eu vou explicar o verdadeiro motivo pelo qual a tinta não afecta os vidros. É simples. A realidade é que não há tinta nenhuma para sujar os vidros, porque toda a tinta que existia foi parar às nossas mãos quando lemos o jornal! É que se fosse mesmo por causa de arranjos moleculares, ou coisa parecida, entre a tinta e o detergente, ao invés de papel de jornal mais valia usar um belo dum choco e assim juntava-se o útil ao agradável: limpavam-se os vidros e fazia-se o jantar ao mesmo tempo!!!

E só para que não pensem que não existe qualquer ligação entre a papel de jornal com que se faz o “Espesso” e o choco com que se cozinha a bela da feijoada de choco, que tudo isto foi apenas e só fruto da minha fértil imaginação, eu vou-vos provar o contrário. Basta fazerem um pequeno exercício de memória. Lembram-se de quando o Gut inventou a imprensa? Recuem lá uns parágrafos... já estão a ver qual foi a tinta que ele utilizou?

e dei-a





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