16 abril 2004

ergonomia

Por vezes torna-se complicado arranjar assuntos sobre os quais escrever. Por vezes? Para dizer a verdade, é mais na maioria das vezes do que por vezes. Mas adiante que isto aqui não é o muro das lamentações.

Nunca foi minha intenção que todo e qualquer texto aqui publicado tivesse forçosamente que, no seu conteúdo, albergar conotações irónicas ou servisse para exteriorizar tentativas de pseudo-humorismo.

Claro que não escondo o gozo que sinto quando das minhas convulsões mentais resultam coisas que fazem rir quem as lê. Rir é bom remédio e faz bem à alma, penso eu de que.

De qualquer modo, o bdi é mais abrangente do que apenas humor e boa disposição. Vem isto a propósito do assunto de hoje.

Andava eu a vasculhar os meus arquivos informáticos quando deparei com o ficheiro contendo um trabalho de grupo que fiz em 2000, subordinado ao tema da Ergonomia, trabalho esse que serviu de suporte para a avaliação na disciplina de Comportamento Organizacional.

Nessa altura, e contra a vontade dos restantes elementos do grupo, a escolha do tema foi minha, tendo igualmente assumido por inteiro o ónus da pesquisa e elaboração do trabalho, uma vez que eles não faziam ideia nenhuma do que era aquilo!

Para quem não faz puto de ideia do que é a Ergonomia, tala como os meus colegas não sabiam, leiam isto até ao fim e pode ser que as vossas dúvidas se dissipem. Ou então não, e nesse caso sintam –se à vontade para me fustigarem violentamente com comentários destrutivos.

Pensem no texto de hoje como um humilde contributo da minha pessoa para o vosso enriquecimento cultural e intelectual. Caso assim o prefiram, também ver na dissertação de hoje única e simplesmente uma clara e evidente tentativa minha de demonstrar a minha vaidade e o meu narcisismo.

Optem por uma ou outra das alternativas em causa, o que não vão de modo algum conseguir é retirar brilho e classe a um trabalho topo de gama, que valeu uma bela nota e nos encheu de orgulho. Leiam e deliciem-se.

Introdução

A Ergonomia é entendida como o domínio científico e tecnológico interdisciplinar que se ocupa da optimização das condições de trabalho visando de forma integrada o conforto do trabalhador, a sua segurança e o aumento da produtividade.

É considerada uma ciência na medida em que estuda as características, o comportamento do homem e as suas relações com o equipamento e o ambiente em que se relaciona.

Entende-se como tecnologia aquando da aplicação desses conhecimentos científicos no sentido de tornar as tarefas mais fáceis, mais cómodas, mais seguras consequentemente mais eficientes.

O objectivo da Ergonomia para um posto de trabalho é o estudo integrado de uma situação de trabalho, tendo como finalidade melhorar as condições de trabalho a nível da segurança, da saúde e da competitividade nesse mesmo posto de trabalho.

O seu objectivo será por excelência, a aplicação dos princípios ergonómicos a fim de optimizar a compatibilidade entre o homem, a máquina e o ambiente físico de trabalho, através do equilíbrio entre as exigências das tarefas e das máquinas e as características anatómicas, fisiológicas, cognitivas e percepto-motoras e a capacidade de processamento da informação humana.

A melhoria da compatibilidade do trinómio Homem / Condições de Trabalho / Ambiente, obtida depois de uma intervenção Ergonómica resulta numa maior produtividade, quer directamente, graças ao aumento da produção por hora de trabalho, da diminuição dos custos resultantes dos tempos não produtivos, dos desperdícios de materiais e matérias primas, dos estragos nos equipamentos, quer ainda através do melhoramento do ambiente psicológico de trabalho, com importantes reflexos na diminuição do absentismo e no aumento da motivação para o trabalho. Não só estimula o bem estar físico e moral dos trabalhadores como também pode poupar dinheiro à empresa, reduzindo custos relativos às compensações aos trabalhadores por absentismo e doenças resultantes de más posturas, entre outros.

Vale a pena investir nesta área?

Tomemos como exemplo o sucedido há algum tempo atrás na fábrica da Auto Europa, em Palmela. Vários funcionários daquela Empresa contraíram lesões ao nível dos tendões e articulações devido a uma inadequada concepção dos postos de trabalho onde laboravam. A situação tornou-se conhecida da opinião pública pela renitência por parte da Administração da Empresa em assumir a sua quota parte de responsabilidade no caso, nomeadamente ao não querer dar razão aos funcionários envolvidos quando estes afirmavam tratar-se de uma doença profissional.

Até que ponto foi rentável o facto de, aquando da concepção e elaboração dos projectos referentes às instalações da Auto Europa, se ter negligenciado o factor da Ergonomia dos postos de trabalho? Será que os “tostões” que foram poupados nessa altura, e não nos podemos esquecer que estamos a falar de um projecto que envolveu um investimento na ordem de alguns milhões de contos, compensa toda a agitação que mais tarde se veio a verificar, nomeadamente as indemnizações aos trabalhadores lesados, toda uma publicidade negativa em torno de uma Empresa que se orgulha de cumprir todas as normas respeitantes à qualidade, etc.? Parece-nos evidente que não!!

Todo e qualquer acidente de trabalho apresenta os seus custos, sejam eles custos directos ou custos indirectos, e as Empresas sabem isso. O risco de ocorrência de um acidente pode ser minimizado desde que se conheçam as causas que poderão levar à ocorrência do mesmo. O conhecimento das causas permite, pelo menos em parte, o controle das mesmas. É este controlo que contribui, essencialmente, para a redução da sinistralidade com o que isso significa em termos económicos, pessoais e sociais.

Uma área onde a Ergonomia tem tido uma influência notória é, sem sombra de dúvida a indústria automóvel.

Hoje em dia todos os grandes fabricantes mundiais dispõe, nos seus gabinetes de desenvolvimento e projecto, de técnicos de Ergonomia.

Existe nesta indústria um conceito relativamente recente e que tem a ver com aquilo que é designado como “ângulos de conforto na condução”, os quais são, em traços gerais, os ângulos que as várias articulações do nosso corpo (tornozelos, joelhos, braços, pulsos, ombros, etc.) fazem com os comandos dos automóveis (pedais, volante, alavanca da caixa de velocidades, etc.).
Com base em estudos ergonómicos levados a efeito ao longo de vários anos, os fabricantes procuram optimizar a relação entre o posto de condução e o condutor. Por isso cada vez os bancos são mais envolventes, os diversos comandos estão mesmo ali ao alcance, etc.

E o que é que se consegue com isto tudo? Simples.

Ninguém duvida que um condutor que esteja ao volante de um veículo moderno e confortável, independentemente de se tratar de um ligeiro ou de um pesado, é forçosamente um condutor mais relaxado, mais concentrado na sua tarefa, mais seguro.

Facilmente se percebe a vantagem desta situação. Veja-se por exemplo nos transportes públicos, um motorista de um autocarro com um posto de condução ergonómico tem um maior rendimento que num qualquer outro autocarro onde isso não aconteça. E aumentando o rendimento, aumenta-se o lucro.

Uma experiência pessoal

Vejamos agora o caso de 2 elementos do grupo, ambos a trabalhar em Câmaras Municipais, uma em Lisboa (CML) a outra em Arruda dos Vinhos (CMAV).

Embora não desempenhem exactamente as mesmas funções, ambas possuem algo em comum: a maior parte do seu dia de trabalho é passado sentado a um secretária a trabalhar num computador.

No caso da CML houve o cuidado de criar uma boa envolvência entre o funcionário e o seu posto de trabalho. O espaço é amplo (open-space) a secretária tem as dimensões adequadas, a cadeira é confortável, o teclado e o rato do computador são ergonómicos, etc.

Com a CMAV a situação altera-se quase que drasticamente. O espaço é exíguo, o que implica a uma maior concentração de pessoas naquele espaço, criando uma desagradável sensação de enclausuramento. As secretárias e cadeiras são de modelo tradicional, o teclado e o rato são normais.

Vamos concentrar-mo-nos única e exclusivamente no espaço físico em que ambas trabalham e vamos avaliar o estado em que cada uma chega ao final de um dia de trabalho.

Enquanto que a funcionária da CMAV apresenta sinais evidentes de fadiga, queixando-se frequentemente de dores ao nível dos pulsos e costas, a funcionária da CML chega ao final do dia fresca como uma alface.

Torna-se evidente que os níveis de concentração e rendimento que uma e outra apresentam durante o desempenho da sua actividade terá de ser forçosamente diferente. O simples pressionar de uma tecla tem significados distintos: para uma é mais uma contribuição para um pulso aberto, para a outra é algo quase tão natural como respirar.

Pensamos que não pode servir de atenuante o facto de estarmos a falar de Câmaras de dimensões opostas, com todas as implicações que isso tem em termos de verbas. Aqui a questão fundamental é a estratégia que cada uma delas adoptou para uma situação semelhante. Ao passo que na CML existiu a preocupação de pensar no funcionário como parte integrante do espaço, na CMAV a lógica aponta para a necessidade de ser o funcionário a adaptar-se aquilo que já lá está

Embora as pessoas consigam adaptar-se a diferentes situações, pensamos que neste caso em particular, bem como em muitas outras situações deste género, aquilo que está em causa é a visão minimalista com que a entidade patronal aborda a questão da Ergonomia dos postos de trabalho. Às vezes até apetece perguntar se sabem o que isso é!

Conclusões

Apesar da nossa realidade ser muito diferente dos países mais desenvolvidos, numa coisa todos estamos de acordo: é necessário ultrapassar a ideia que, numa Empresa, o que menos conta ainda são as pessoas, apostando-se (erradamente) apenas no factor tecnológico como via de desenvolvimento e modernização.

Na entrada para um novo milénio, as nossas Empresas, salvo raras excepções, ainda estão bem longe de apostar forte na componente humana.

Se queremos estar no pelotão da frente dos estados membros da U.E. que estão a cumprir os critérios da convergência monetária, não podemos continuar a fazer figura de lanterna vermelha em muitos domínios, nos quais podemos incluir aquele sobre o qual se desenvolveu este trabalho.

Damn, i'm good!

e dei-a





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