27 maio 2004

FCP vs Balu

Ontem foi um dia de emoções fortes e de sentimentos antagónicos. Por um lado a euforia e a alegria por mais uma conquista do meu clube do coração. Por outro, a tristeza e a consternação pela notícia da morte do pequeno golfinho Balu.

A histórica vitória do Futebol Clube do Porto, deixou-me satisfeito, eufórico e orgulhoso de ser tripeiro. Não apenas a mim, como a todos os portistas e também, acredito sinceramente nisso, a um grande números de portugueses adeptos de outros clubes.

Nestes momentos de celebração todos nos esquecemos do alto preço dos combustíveis, dos baixos salários, do desemprego e da retoma que nunca mais chega. O futebol anima o povo. O ideal agora será podermos estar todos, daqui a umas semanas, a festejar a conquista do Campeonato Europeu pela nossa selecção.

“Inesquecível. Mas que ninguém diga irrepetível!” José Mourinho proferiu esta frase no final da época passada, após a conquista do Campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA, frase essa que ficou registada no livro publicado nessa mesma altura, dedicado às conquistas do “mister” Mourinho. Ontem, assim que o jogo acabou, lembrei-me destas palavras.

Nunca fiz amizades baseadas em princípios clubísticos, políticos ou religiosos. Sou amigo de quem merece a minha amizade e tento merecer a amizade de quem é meu amigo. Como tal é óbvio que no seio das minhas amizades encontram-se adeptos de outros clubes, uns mais ferrenhos do que outros.

Quer através de mensagens, de telefonemas ou de cumprimentos pessoais, já muita gente me deu os parabéns. “Bibó Puerto. O teu clube é o maiore, carago!” Claro que fico contente. Seria hipócrita se dissesse o contrário.

Mantendo todo o respeito e consideração por todos os meus amigos e amigas, vou destacar aqui amigos de longa data, ambos ilustres benfiquistas. Mesmo sabendo que é possível que eles não venham a ler isto, o que não é muito relevante porque vou ter oportunidade de lhes dizer isto pessoalmente, quero deixar um abraço especial para o Rui e para o Carlitos.

Rui, após a final de Sevilha no ano passado, numa das nossas conversas de bola na mítica Carvoaria, disseste qualquer coisa como “Se não deixar sair os melhores jogadores, a jogar desta maneira vocês habilitam-se a ser campeões europeus.”

Ainda no sábado passado, apesar do teu Benfica ter ganho a Taça de Portugal, não tiveste qualquer problema em afirmar “Ficou provado que o Porto é a única equipa em Portugal que joga como equipa.” És grande.

Carlitos, já pertencem ao passado, embora a um passado recente, as nossas tertúlias futebolísticas no bar do ISEL. És benfiquista dos sete costados, daqueles que só falham um jogo por motivos de força maior. Mas és também um adepto incondicional de todos os clubes portugueses que competem em provas europeias.

Já na época passada o fizeste, mas esta época fizeste-o com mais afinco. De cada vez que o FCP marcava um golo lá recebia eu um toque no meu telemóvel. Acredito honestamente que ontem ficaste quase tão eufórico como eu. Obrigado.

Se todos os benfiquistas fossem como vocês os dois, se calhar até eu era benfiquista. Ou então não. Podemos mudar muita coisa ao longo da vida, mas nunca de clube, não é verdade?

Mas nem tudo foram alegrias. Chamem-me lamecha, menino, totó, ou qualquer coisa desse género. I don’t care. Quando vi a notícia de que o Balu tinha morrido, fiquei triste.

Para os que não sabem, o Balu era um bebé golfinho, órfão, que estava entregue aos cuidados dos técnicos do Zoomarine.

O estado dele era grave. Tinha perdido a mãe, o que dada a ligação e dependência dos bebés golfinhos à sua progenitora, colocava o Balu numa situação delicada. Os golfinhos, quando nascem, não sabem nadar, necessitando de permanecer “colados” à mãe durante os primeiros dias de vida. Para além disso, também padecia de uma infecção que o enfraquecia e lhe limitava o sistema imunitário.

Tudo foi feito para que o Balu sobrevivesse. Colocaram-lhe flutuadores e acompanharam-no 24 horas por dia para que ele aprendesse a nadar. Alimentaram-no e mimaram-no como qualquer bebé necessita ser mimado. Fizeram-lhe todos os exames possíveis e imaginários para tentar descobrir o que ele tinha.

Infelizmente, a infecção foi mais forte e o Balu não resistiu. Comovi-me quando vi o ar emocionado com que as pessoas que o acompanharam nesta luta, falaram do que tinha acontecido.

Sou muito humano e sensível. Digo muita vezes que tenho mais consideração pela minha cadela do que por muitas pessoas que conheço. O ser humano é falso, os animais não. Se há espécies extintas ou em vias de extinção, se o nosso planeta está a ser destruído, isso não se deve aos animais.

Presto aqui a minha homenagem a toda a gente, do Zoomarine e não só, que tudo tentaram e tudo fizeram para salvar a vida do pequeno Balu. Estes gestos e estas atitudes provam que, felizmente, nem todo o ser humano é igual.

Homens ou animais, só temos uma Terra.

e dei-a

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