23 junho 2004

greves

“Metro e Carris mantêm greve para dia 30. Sindicato e ministros reúnem-se mas sem resultados. Vão parar no dia da meia final do Euro2004, a disputar no Estádio Alvalade XXI.

Depois de uma reunião com os ministros dos Transportes, Carmona Rodrigues, e Adjunto do primeiro-ministro, José Luís Arnaut, Diamantino Lopes, da FESTRU e José Silva Marques, do STTM, explicaram aos jornalistas, à saída da reunião, que os ministros apelaram à «sua portugalidade», sugerindo o adiamento da greve para outro dia.

À saída do encontro, Diamantino Lopes considerou que «não houve vontade» dos ministros em resolverem o problema. José Silva Marques disse aos jornalistas que estão dispostos a continuar a negociar, mas que «a resposta está do lado da tutela». «Há a tentativa de adiar o problema e não de o resolver», adiantou, pelo que o STTM mantém o pré-aviso de greve.”

Ao ler esta notícia publicada no site Portugal Diário, cujo resumo me atrevi a transcrever, o primeiro (e único) comentário que me ocorre é: mas esta malta não se farta?!

Nada tenho contra as reivindicações dos trabalhadores, desde que estas sejam legítimas. Nada tenho contra a greve enquanto forma de luta por esses direitos, mas o que é demais é exagero.

Eu bem sei que uma das conquistas de Abril foi o direito à greve, só que a regularidade com que, em certas empresas, este direito é utilizado pelos seus trabalhadores, quase que faz pensar que, de repente, a greve deixou de ser um direito e passou a ser uma obrigação contratual.

Sejamos pragmáticos. Quantos dias de greve já levam os trabalhadores do Metro e da Carris, principalmente estes últimos, desde o início do ano? São muitos. Já lhes perdi a conta, mas sei que são muitos, demasiados mesmo.

Levando em conta que, sempre que acontece mais um dia de greve, a maior parte dos grevistas fica em casa em vez de permanecer no seu local de trabalho, embora não desempenhando as suas habituais tarefas, cá para mim isto não são greves. São é acréscimos aos dias de férias!

Também já não tenho pachorra, nem respeito, pelas contínuas greves levadas a cabo pelos médicos nos hospitais públicos, a reivindicar aumentos, a queixarem-se que trabalham muitas horas, não recebem as horas extraordinárias, as progressões de carreira são lentas, entre outras preciosidades. Porque será que esses mesmos médicos nunca fazem greves no sector privado?

Voltando à notícia de abertura, há uma afirmação que é uma autêntica pérola: o apelo dos ministros à “portugalidade” dos grevistas, seja lá o que isso for, sugerindo o adiamento da greve para um outro dia que não colida com jogos do Euro2004.

Senhores ministros, poupem-me a essa acéfala e ridícula argumentação dos interesses nacionais que giram à volta do Euro. Parem lá um segundo e pensem que o fulcral da questão não é a greve estar marcada para dia de jogos, mas sim que esta já é a enésima greve deste ano.

Quem sai prejudicado não são os senhores, que andam em potentes bólides topo de gama, pagos com o dinheiro dos contribuintes, dando-se ainda ao luxo de, repetida e sistematicamente, infringirem as mais elementares regras do Código da estrada. Também não são os adeptos que querem ir ao jogo os principais prejudicados, pois em último caso podem sempre optar pelo recurso aos táxis.
(Nota de rodapé #1: Será que a verdadeira força por trás desta greve é o lobby taxista?)

Os únicos e reais prejudicados por mais esta(s) greve(s) são os comuns cidadãos que todos os dias utilizam os transportes públicos para se deslocarem para o seu local de trabalho. Quem é que assume as possíveis perdas de remuneração e/ou retaliações do patrão, ao empregado que chegou atrasado ao seu local de trabalho porque havia greve? ou querem fazer-me acreditar que os transportes alternativos funcionam?

Será que, em algum momento, os senhores da FESTRU e do STTN pensam nisto? Duvido muito. Porque haveriam eles de se preocupar com essas ninharias? O que importa é a luta dos escravizados e martirizados trabalhadores do Metro e da Carris contra o autoritarismo do patronato.
(Nota de rodapé #2: quem é que paga os ordenados aos delegados sindicais, os quais recebem por nada produzir?)

Precavendo-me de potenciais críticas à minha postura crítica em relação aos sindicatos, esclareço desde já que eu, espantem-se, estou inscrito num sindicato. Mas calma lá. Não sou sindicalista nem alinho em discursos sindicais. Os meus interesses foram outros.

Quando acabei o meu bacharelato, e uma vez que nessa altura ainda não existia a ANET (Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos), inscrevi-me no SNET/SETS, de modo a poder constar na sua base de dados para saídas profissionais, para além de ter acesso a aconselhamento jurídico e descontos em livros da especialidade.

Agora que penso nisso, acho que vou contactar o “meu” sindicato e solicitar-lhes que façam um pré-aviso de greve aos meus patrões. Já estou a imaginar algumas das minhas reivindicações:

1- Aumento salarial de, pelo menos, 500% sobre o ordenado base, livre de impostos, de modo a poder compensar a notória perda de poder de compra deste ano para o anterior, motivada pela aquisição do meu imóvel habitacional.

2- Melhoria no espaço físico do local de trabalho, dotando o contentor de obra de, entre outras coisas, cadeiras de design exclusivo, computadores topo de gama com ligação de banda larga sem limite de consumos, um aparelho de ar condicionado cujo termostato permita mais do que as temperaturas “frio da Sibéria” e “calor do Saara”, máquina de café que tire uns capuccinos como deve ser e casa de banho dotada de banheira de hidromassagem.

3- Equipamentos de protecção individual mais evoluídos, como por exemplo um capacete dotado de sistema integrado de climatização e que não dê cabo dos penteados ou calçado de protecção leve e adequado aos dias de calor que se aí vêm, tipo chinelos de praia.

4- Criação de condições para que os martelos pneumáticos não produzam níveis de ruído superiores aos do meu canário quando está a piar e níveis de vibração superiores ao do meu telemóvel quando recebo uma chamada.

Se é para se pedir, pede-se tudo!

e dei-a

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