17 setembro 2004

mIRC

“Sabes que dia é hoje?”. Aquela frase, proferida naquele momento e com aquela entoação, atingiu-me violentamente, tal e qual como se eu tivesse sido abalroado por um comboio em velocidade desenfreada.

Exageros metafóricos à parte, a verdade é que eu me tinha esquecido por completo daquela data. A idade avançada não pode servir de eterna desculpa a todos os esquecimentos relacionados com datas de calendário. Nada justifica que me tenha esquecido do dia em que proferi a célebre interrogação ”Como é que perdeste uma coisa tão grande?”

Ainda por cima, para agravar ainda mais o já por si só suficientemente gravoso esquecimento, o dito ocorreu quando estava ao telefone com a única pessoa com quem sempre fiz questão de celebrar a malfadada data.

Está na hora de colocar alguma água na fervura. Mas afinal, que data tão importante é essa? Trata-se apenas da data em que teve lugar o mítico jantar do canal “pearljam” do IRC, o qual teve lugar no já longínquo ano de 2000, mais concretamente a 16 de Setembro.

Francamente. Tanto alarido por um simples jantar, ainda por cima um jantar de canal? Mas afinal, que interesse é que tem um jantar desses?

Antes de mais, não se tratou de um simples jantar de canal. Foi O jantar de canal. Vinte e quatro utilizadores daquele que, orgulhosamente, era conhecido por ser um dos canais mais ordinários da ptnet, juntaram-se à mesa de um restaurante situado na já extinta feira popular de Lisboa.

Acredito que a grande maioria das pessoas que utilizam a Internet conhecem, utilizam ou utilizaram, ou pelo menos já ouviram falar do IRC. Um mundo de conversa em incontáveis canais temáticos, onde as pessoas falam de tudo e mais alguma coisa.

Influenciado por colegas meus que já eram frequentadores desse mundo, assim que tive Internet em casa, o mIRC foi logo um dos meus alvos preferidos. Ainda me lembro do drama que foi conseguir escolher um nick, da minha ingenuidade de caloiro naquele ambiente porque nem sequer sabia o que era um simples lol.

Foram noites de paródia, conversas hilariantes, momentos de completa loucura e convívio com punhado de utilizadores que eu não conhecia nem fazia ideia quem eram, vindos de várias zonas de Portugal: Alverca, Barreiro, Póvoa de Santa Iria, Portimão, Porto, Maia, Amadora, Leiria, entre outras.

Como não há bela sem senão, quem sofria com tudo isto era a minha mãe quando chegava a hora de pagar a conta do telefone. Ainda não estava na era da Netcabo e as contas não estavam a ser nada modestas. Para evitar males maiores cheguei a um acordo com ela em que passava a ser eu a suportar os custos das chamadas de dados.

Com o passar do tempo, e à medida que nos íamos conhecendo melhor, começou a crescer a vontade de eu participar num desses jantares de canal. Seria uma forma de conhecer realmente a pessoa por detrás do nick. Finalmente esse dia surgiu e devo dizer que, no meu caso, tratou-se do ponto de partida para algumas boas amizades que, felizmente, ainda subsistem.

Como o passar do tempo, e à medida que as amizades iam crescendo, os nicks foram desaparecendo e foram ficando os nomes. Mas, passe o tempo que passar, a realidade é que podemos tirar o nick à pessoa, mas não conseguimos tirar a pessoa ao nick. Poético.

Hoje em dia não frequento o IRC, mas não deixei de o utilizar. Pelo menos uma vez por mês ligo-me a esse mundo porque faço questão de preservar o registo do meu nick. É algo tão meu como a minha casa, o meu carro ou a minha roupa. Faz parte da minha história.

Esqueci-me da data mas não me esqueci das pessoas. Ainda bem que ela perdeu aquela coisa tão grande.

e dei-a

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