07 outubro 2004

nulidades

Não se fala de outra coisa. Para onde quer que se vá, para onde quer que se olhe, o grande tema do momento é a quinta. Aquela dúzia de celebridades alimenta o quotidiano dos portugueses, fornece temática de conversa, enche as primeiras páginas de jornais e revistas.

Podem ter baptizado aquilo de “Quinta das Celebridades” mas eu prefiro utilizar outras palavras terminadas em “ades”, tais como alarvidades, vaidades ou, a melhor de todas, nulidades. Também eu vou aproveitar a maré e vou seguir a mesma temática: nulidades.

Mas nulidades porquê? Deve ser por causa da minha aversão a este tipo de paródias. Não vou pedir desculpas por achar insultuoso para o cidadão comum, que se pague para que aquele bando de inúteis esteja para ali a fazer pouco dos comuns mortais.

Bendito país este em que um presidente de Câmara Municipal pode trocar a função para a qual o povo o elegeu pela participação neste programa, sem que seja sancionado por isso. Se fosse um qualquer comum cidadão a tomar esta opção, o mais certo era que o patrão o pusesse no olho da rua.

Mas já basta destas nulidades. Há muitas outras nulidades sobre as quais me apetece falar, a começar por mim mesmo.

Durante o recente fim-de-semana prolongado, que no meu caso se deveu à marcação de um dia de férias e não a uma tolerância de ponto, senti-me uma autêntica nulidade. Não fiz nada, rigorosamente nada, de produtivo. Limitei-me a dormir, comer, ver uns quantos DVD’s e dar de comer à minha cadela, uma vez que os meus pais não estavam em casa.

Pode parecer um contra-senso, uma vez que comer e dormir são dois dos meus passatempos predilectos, mas não gostei mesmo nada deste meu fim-de-semana. Não querendo ser mal interpretado, a realidade é que detestei aqueles quatro dias.

Felizmente para mim não fui a única nulidade do fim-de-semana. Só à conta do que vi, li e ouvi nestes dias, posso até ridicularizar umas quantas nulidades criando uma lista de potenciais vencedores do Prémio Nobel da Nulidade, baseando tal premissa nos meus (isentos) critérios de avaliação pessoais. E os candidatos são:

- Carvalho da Silva, líder da CGTP. Ouvir um dirigente sindical criticar um governo, seja de que partido for, por conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos é aberrante incompreensível e demonstrativo de falta de coerência. Não são esses mesmos sindicatos que estão sistematicamente a ralhar, criticar e atacar os governantes, em defesa dos direitos dos sacrificados e explorados trabalhadores, exigindo (legitimamente) melhores salários, semanas de trabalho de 35 horas e maior flexibilidade perante o absentismo justificado?

- Outro candidato é aquele senhor, cujo nome não registei, que veio a público discursar acerca dos prejuízos que a concessão de tolerância de ponto acarreta no nosso PIB. Cada dia de ponte custa não sei quantos milhões de Euros ao Estado, diminuindo o PIB em não quantos por cento. Apetece-me perguntar o seguinte a esta ave agoirenta, profeta da má fortuna ou lá o que raio é que ele é: as tolerâncias de ponto não existem praticamente desde a revolução de Abril? Então só agora é que este iluminado deu conta dos prejuízos económicos de tal medida?

- Malta do street racing. Por mais argumentos que utilizem, por mais que apregoem que as transformações que fazem nos carros os tornam mais seguros, a realidade mostra o contrário. Não acredito que um carro, cuja estrutura está desenhada, concebida e idealizada, para determinadas velocidades de utilização, seja, após transformações que o tornam numa máquina capaz de atingir velocidades supersónicas, um veículo mais seguro do que quando sai da fábrica. Para além disso ouvir essa malta dizer que o Estado deveria criar espaços para eles se divertirem à vontade é ridículo. Isso tem tanta lógica como um assassino exigir ao Estado que lhe forneça as armas para poder praticar à vontade o seu passatempo.

- Rui Gomes da Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares. As críticas proferidas por este senhor aos comentários semanais do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de proferir mentiras e inverdades, e de atacar sistematicamente este (des)governo, são do mais baixo que há e mostram que estamos de volta aos tempos da censura. Só porque o Professor Marcelo é do mesmo partido que o (des)governo, não pode opinar e comentar de acordo com a realidade dos factos? Pelos vistos não, tem que ser a voz do dono. O curioso é que os comentários do homem já existiam há quatro anos e meio e, só agora, é que aquele iluminado ministro veio a público criticar a falta de pluralidade naquele debate semanal. Aquilo não é – ou melhor, era – um debate semanal, é – ou melhor, era – uma rubrica de opinião pessoal.

Por muita nulidade que eu seja, a realidade é que, dificilmente, consigo competir com nulidades tão notáveis. Mais difícil ainda será discernir qual será a nulidade mor.

Coitados dos (genuínos) animais da quinta.

e dei-a

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