03 novembro 2004

F1

De entre os vários passatempos possíveis e imaginários, aquele que, inquestionavelmente, continua a merecer a minha preferência é o sair à noite para estar em amena cavaqueira com os amigos.

Aproveitando a benesse de um fim-de-semana maiorzinho do que o habitual, tive o prazer de poder usufruir desses impagáveis momentos de boa disposição, proporcionados por conversas em círculos de amigos, com o extra de ter ocorrido em duplicado.

Essas pequenas tertúlias são únicas, mesmo que os intervenientes não mudem. Há sempre tópicos de conversa, seja a discutir o estado da sociedade actual ou os mais recentes desenvolvimentos na quinta das nulidades, seja a falar de assuntos sérios ou a rir de uma qualquer anedota.

De entre todos os sítios onde é possível ir beber um copo e pôr a conversa em dia, há um que se destaca dos demais, podendo mesmo catalogá-lo como local de culto. Publicidade à parte, até porque não estou a receber qualquer patrocínio, tem sido à mesa do Clandestino que têm jorrado as melhores conversas subordinadas à temática daquilo que eu gosto de apelidar como “ideias muito à frente”.

No mais recente desses serões, a temática debruçou-se sobre a indústria automóvel, tendo-se iniciado nos carros do dia a dia, passando por carros de sonho até se chegar à Fórmula 1 (F1).

Por entre um moscatel e umas imperiais - sendo que o habitual é estes momentos acontecerem na presença de jarros de sangria, eventualmente acompanhados por uma ou outra tosta mista ou, nas noites de maior loucura, por um chouriço flamejante - as tempestades de génio criativo foram exibidas na sua forma oral ou, como os mais cépticos preferem dizer, abriram-se as bocas para dizer alarvidades.

A F1 actual é tudo menos interessante. As corridas são monótonas e, aconteça o que acontecer, ganha sempre o mesmo, o que retira todo e qualquer interesse ao habitual espectador destes eventos. Assim, de entre as várias “ideias muito à frente” tidas com vista a uma (inquestionável) melhoria deste desporto, aqui ficam algumas (são aquelas que eu me lembro):

- sempre que um carro entrasse na box para mudar os pneus, o piloto era obrigado a colocar o triângulo de pré-sinalização, à distância regulamentar de 30 metros, devendo o mesmo ser visível a 150 metros;

- à entrada e saída da zona das boxes seriam instaladas rotundas, ornamentadas por fontes luminosas e dotadas da habitual plantação de sinais de trânsito e afins;

- nas zonas mais rápidas de cada circuito, escondido atrás de um eco-ponto, estacionavam-se carros à paisana da BT, equipados com o radar, fazendo-se parar os pilotos em infracção na chicane mais próxima para serem autuados;

- os carros deveriam ter, colados no pára-brisas em local bem visível, os selos referentes ao imposto municipal, à apólice do seguro e à inspecção periódica, sendo o piloto obrigado a ter sempre à mão os seus documentos e os da viatura;

- sempre que se efectuasse uma ultrapassagem, o piloto teria que sinalizar a mesma recorrendo aos indicadores de mudança de direcção, vulgo piscas;

- aos pilotos com costela xuning seriam permitidas algumas alterações aos carros, tais como um boom bass a bombar som por trás do piloto, a mítica luzinha de néon azul, as jantes cromadas e resplandecentes, os vidros fumados ou os pedais e alavanca da caixa em alumínio racing;

- aos pilotos com veia de camionista seria autorizada a colocação de uma chapa de matrícula, com o nome ou a alcunha do piloto, junto ao pára-brisas, bem como também seria permitido pendurar no espelho retrovisor um coração com leds a piscar;

- os religiosos poderiam sempre optar pela colocação de uma imagem de N. Sra. Fátima sobre o tabelier, pendurar um terço no espelho e colar um autocolante na traseira a dizer “Jesus Salva”;

- outros autocolantes permitidos seriam todos aqueles pertencentes à família “o meu outro carro é um Porsche”, “se estás com pressa passa por cima” ou então o clássico “bebé a bordo” se bem que no caso deste último, o piloto seria obrigado a montar a cadeirinha no banco de trás do seu bólide.

Sem dúvida que, podendo não se aumentar o interesse competitivo ao campeonato, o interesse televisivo destes eventos iria ser resmas de vezes superior ao actual.

Muito à frente.

e dei-a

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?